25 de julho de 2011

Nos bastidores, eleição para prefeitura de Porto Alegre já começou

Paço Municipal de Porto Alegre | Ivo Gonçalves/PMPA\
A mais de um ano da eleições para a prefeitura de Porto Alegre, movimentação entre partidos é intensa | Foto: Ivo Gonçalves/PMPA


Felipe Prestes e Igor Natusch

As eleições municipais ocorrem daqui a mais de um ano, mas em Porto Alegre a movimentação entre os partidos é cada vez mais forte. O Sul21 conversou com as lideranças das principais siglas para montar o cenário atual de um jogo ainda longe do fim.
Neste momento, são dois os nomes que se destacam na corrida pela prefeitura de Porto Alegre. O atual prefeito, José Fortunati, é candidato declarado do PDT, enquanto Manuela D’Ávila (PCdoB) surge forte como nome de oposição. As duas siglas não fazem segredo de que capital gaúcha é o grande objetivo nacional em 2012. Mas o tabuleiro que envolve os destinos de Porto Alegre está bem mais complicado do que pode aparentar à primeira vista.
O DEM se move para unir partidos de direita em torno de um candidato único, enquanto nomes de peso como Ana Amélia Lemos (PP) podem criar um fato novo de impacto imprevisível. Por outro lado, há a indefinição do PT – partido que ocupou a prefeitura durante 16 anos e que não parece muito disposto a abrir mão de uma cabeça de chapa em nome da candidata comunista.
Porto Alegre foi governada por José Fogaça (PMDB) até o ano passado, quando o então prefeito deixou o posto para concorrer ao governo estadual. A ideia da aliança que elegeu Fogaça é manter o controle da prefeitura – desta vez, em uma chapa encabeçada por José Fortunati. “Somos governo, lideramos uma frente vitoriosa e sempre tivemos candidatos em Porto Alegre. Mas certamente não haverá dificuldade em compor uma aliança”, diz Sebastião Melo, vereador de Porto Alegre e presidente do PMDB na capital. Segundo ele, o momento é de fortalecer o trabalho da atual prefeitura. “Não existe reeleição se a administração não estiver em evidência”, argumenta. “Nosso compromisso é com o futuro da cidade”.

Tarso Boelter, presidente do PP, aleta: “Essa base atual é de apoio ao Fogaça. Para que esta mesma base apoie Fortunati tem que haver diálogo, e o PDT está parado” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Aliados reclamam: PDT está parado

Mesmo ressalvando que “não é o momento” para discutir composição de chapa, o presidente do PMDB de Porto Alegre afirma que não há conversas em andamento com José Fortunati. “Estamos concentrados em formar uma boa nominata de vereadores”, diz Sebastião Melo. Ainda que sem entrar no assunto, a fala de Sebastião Melo demonstra a preocupação dos possíveis apoiadores de Fortunati com a lentidão dos trabalhistas em articular a chapa para 2012. Possibilidades que se desenhavam no começo do ano, como uma união de forças do PDT e do PT em 2012, foram praticamente inviabilizadas pela falta de sinalização dos trabalhistas.
Tarso Boelter, presidente municipal do PP, é um dos que acredita que o PDT de José Fortunati está parado nas negociações. Ele credita isto às disputas internas entre os trabalhistas pelo diretório municipal. “A gente faz parte do governo Fortunati, mas não tem dialogado com o PDT, que vive uma disputa pela direção. Enquanto isto (não se resolver) acredito que não avança o diálogo”. E afirma que o alinhamento a Fortunati não deve ser automático, porque a base governista fora formada em torno de José Fogaça. “Essa base atual é de apoio ao Fogaça. Para que esta mesma base apoie Fortunati tem que haver diálogo, e o PDT está parado”, diz.
O deputado Adroaldo Loureiro, vice-presidente estadual do PDT, não acredita que essa situação possa estar de fato interferindo no diálogo entre os partidos. “Há o início de uma disputa (pelo diretório metropolitano), que pode até nem ocorrer, porque estamos trabalhando para fazer uma composição”. O fato, porém, é que a incerteza quanto ao PDT portoalegrense – movida especialmente pela insatisfação da deputada Juliana Brizola – preocupa bastante as lideranças trabalhistas, e tem sido alvo de esforços de articulação não apenas do presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan, como do próprio prefeito José Fortunati.
Apesar das críticas, o progressista Tarso Boelter ressalta que importantes vereadores do PP, como João Dib, e integrantes progressistas da administração municipal defendem o apoio a Fortunati. Também diz que a definição deve ocorrer apenas na convenção, que deve ser no início do ano que vem e que, por enquanto, a prioridade é trabalhar para buscar novas lideranças e aumentar a bancada de vereadores da sigla.

Wesley Santos/Foto Arena
Popularidade do ex-goleiro do Grêmio faz PTB por nome de Danrlei na mesa, para ajudar na negociação com outros partidos | Foto: Wesley Santos/Foto Arena

PTB pensa em lançar Danrlei

Partido importante na sustentação de José Fortunati na prefeitura de Porto Alegre, o PTB pode vir com candidatura própria em 2012. O ex-goleiro do Grêmio Danrlei colocou seu nome à disposição dos petebistas. Danrlei foi o quarto deputado federal mais votado em todo o Rio Grande do Sul no ano passado. O vereador Nelcir Tessaro afirma que o nome do ex-atleta deve ser o centro das discussões internas do PTB, já que Danrlei teve 38,9 mil votos em Porto Alegre e é jovem como a deputada Manuela D’Ávila, pré-candidata do PCdoB e tida como um dos principais nomes na corrida pelo Paço Municipal.
Embora Tessaro fale em candidatura própria, a postura do PTB parece ser a de usar o nome de Danrlei para tentar ganhar mais força na chapa de Fortunati. Na primeira gestão de José Fogaça, o PTB tinha o vice-prefeito, Eliseu Santos, e depois perdeu espaço para o PDT de Fortunati. Agora, a popularidade de Danrlei pode ajudar o PTB a ter de volta o posto de vice. Ao mesmo tempo em que Tessaro afirma que seu partido é “grande” e “não pode ficar eternamente compondo governo”, ele também garante que, hoje, o partido está com o pedetista e deve permanecer na base aliada “até o último dia de governo”.

PP municipal quer Ana Amélia

O PP faz parte da administração de José Fortunati, comanda a Secretaria de Direitos Humanos e Segurança com Kevin Krieger, e pode continuar na base de apoio ao pedetista. Mas não ignora a popularidade da senadora Ana Amélia Lemos. O presidente do PP municipal, Tarso Boelter, diz que a intenção é que o nome da senadora seja ao menos discutido, embora muitos na sigla pensem que é melhor pensar na candidatura da jornalista para 2014. “Lideranças estaduais querem preservar Ana Amélia para as eleições ao governo do Estado, em 2014. Nós de Porto Alegre, não. O nome dela tem que ao menos aparecer nas pesquisas”, diz.

Bruno Alencastro/Sul21
“Lideranças estaduais querem preservar Ana Amélia para as eleições ao governo do Estado, em 2014. Nós de Porto Alegre, não. O nome dela tem que ao menos aparecer nas pesquisas”, diz presidente municipal do PP | Foto: Bruno Alencastro/Sul21

Boelter ressalta que Ana Amélia apareceu com 21% das intenções de voto, praticamente empatada com José Fortunati e Manuela D’Ávila, em pesquisa realizada no primeiro semestre deste ano. Ele afirma que o diretório municipal irá ouvir a senadora após o recesso parlamentar, em agosto. O dirigente também levanta outra hipótese, a de que o PP pode apoiar a candidatura de Manuela D’Ávila. Segundo ele, a deputada tem estreitado relações com Ana Amélia, em Brasília, o que pode significar uma aproximação visando o pleito de Porto Alegre.

PT busca candidato forte para não ser vice de Manuela

À esquerda da política porto-alegrense, o dilema é outro. Reconquistar Porto Alegre é visto como fundamental para consolidar a aliança resultou na vitória de Tarso Genro na corrida pelo Piratini. A divergência é sobre quem vai carregar essa responsabilidade. Manuela D’Ávila é o nome do PCdoB e já conta com o apoio declarado do PSB. O vereador Airto Ferronato foi indicado pelo diretório socialista para ser o vice em uma chapa encabeçada por Manuela. O que, é claro, muda de figura na medida em que o PT concorde em participar da aliança. No caso dos petistas fecharem com Manuela, a indicação do vice estaria nas mãos do PT – restando saber se o partido, que governou a capital em quatro mandatos consecutivos, aceitaria abrir mão da cabeça de chapa.
“Queremos consolidar a aliança que deu certo na eleição de Tarso Genro. Unidos, podemos vencer não só em Porto Alegre, mas em vários outros municípios do Estado”, garante Adalberto Frasson, presidente estadual do PCdoB. Adotando um discurso cauteloso, admite até, em teoria, a possibilidade de Manuela não encabeçar a chapa. Mas deixa claro, nas entrelinhas, que os comunistas apostam todas as fichas na deputada federal, candidata mais votada em Porto Alegre no ano passado. “Podemos discutir em torno de nomes”, explica. “Se houver uma opção que todos entendam ser mais forte, não há problema. Mas, da nossa parte, o nome é Manuela, e temos muita confiança nela”.
A possibilidade de apoiar Manuela D’Ávila provoca intensa discussão interna no PT. Embora alguns setores pareçam concordar que o nome da comunista é o mais forte dentro da Frente Popular, há grande resistência, em especial dentro da corrente Democracia Socialista, que conta com a preferência da maior parte da militância petista na capital. Os nomes do deputado estadual Raul Pont (que já governou Porto Alegre entre 1997 e 2000) e da presidente da Câmara de Porto Alegre, Sofia Cavedon, são os favoritos da corrente para concorrer à prefeitura.
Um dos nomes que o PT considerava forte para lutar por Porto Alegre era o do deputado federal Henrique Fontana – que acabou perdendo força, já que o parlamentar está envolvido em problemas pessoais e familiares que dificultariam uma dedicação integral à campanha. O vereador Adeli Sell, da Construindo Um Novo Brasil, já se lançou pré-candidato e também pleiteia a indicação pelo PT. Enquanto isso, alguns setores trabalham para viabilizar a candidatura de Adão Villaverde, atual presidente da Assembleia Legislativa. Até mesmo Olívio Dutra, petista histórico e primeiro nome do partido a governar a capital, teria sido alvo de algumas sondagens – tudo para encontrar um candidato forte, capaz de lutar de igual para igual com Manuela.

Deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) | Foto: Beto Oliveira/Agência Câmara
“Se houver uma opção que todos entendam ser mais forte, não há problema. Mas, da nossa parte, o nome é Manuela, e temos muita confiança nela”, afirma o presidente do PCdoB | Foto: Beto Oliveira/Agência Câmara

Sem apoio do PT, Manuela pode atrair o PP

Caso o PT opte por correr sozinho (ou quase) pela prefeitura, e na eventualidade de não haver acordo dos progressistas sobre o nome de José Fortunati, surge no horizonte a possibilidade do PP integrar a chapa de Manuela. Integrantes do Partido Progressista já teriam entrado em contato com líderes do PCdoB, com o objetivo de deixar as portas abertas para uma eventual aliança. Airto Ferronato, indicado pelo PSB para ser vice na chapa de Manuela D’Ávila, admite que “ouviu comentários” a respeito. O comunista Adalberto Frasson, por sua vez, diz que não existe “absolutamente nenhum movimento” nessa direção. “Para nós, a prioridade total é manter a unidade do campo de esquerda, representado pelos três partidos (PCdoB, PT e PSB)”, assegura Frasson.
Airto Ferronato também ressalta que o objetivo principal é fechar aliança com o PT, ainda que não veja “inconveniente maior” em discutir com siglas como PP e PPS, caso a parceria com os petistas não avance. Mas assegura: se o PT não estiver com Manuela, o PSB quer o cargo de vice e não negociará a respeito. Ferronato diz que alguns partidos aproximam-se de forma “oportunista” da candidata comunista, sabendo que ela possui bom potencial de votos, mas garante que o PSB não assumirá uma posição de inferioridade. “Da outra vez (2008), deixamos de indicar vice em nome do PPS (que apresentou Berfran Rosado como vice de Manuela). Desta vez, não. Temos que valorizar nossa aliança. Agora é a nossa vez”, acentua.

PSOL aposta em Luciana Genro para aumentar bancada

O PSOL deve ter seu presidente estadual, Roberto Robaina, encabeçando a chapa majoritária, ele que já foi candidato ao governo em 2010. O próprio Robaina confirma que seu nome tem sido indicado informalmente pela militância, embora a definição deva ficar apenas para o ano que vem. Mas a grande prioridade da sigla será a eleição para o Legislativo. Para fortalecer a bancada em Porto Alegre, a sigla conta com Luciana Genro, que teve 130 mil votos na eleição para a Câmara dos Deputados no ano passado, além dos dois integrantes da bancada municipal do PSOL, Fernanda Melchionna e Pedro Ruas.

Para fortalecer a bancada na Câmara, PSOL conta com Luciana Genro, que teve 130 mil votos na eleição para a Câmara dos Deputados no ano passado | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Não ficamos especulando um número de vereadores, mas queremos fazer uma bancada forte, queremos ter lideranças novas na Câmara”, diz Robaina. O dirigente diz que o partido está otimista quanto à legalidade da candidatura de Luciana Genro, que corre o risco de ser impedida pelo fato de ela ser filha do governador Tarso Genro. “Estamos muito otimistas, temos muitos pareceres jurídicos que mostram a viabilidade da candidatura e apoio de políticos de vários partidos”, afirma. Robaina afirma ainda que o partido deve procurar PV, PSTU e PCB para compor aliança, mas que a prioridade é mostrar à população que o PSOL tem um projeto que não faz o “jogo” da política tradicional.

Democratas querem chapa alternativa às opções de esquerda

Do lado direito da capital gaúcha, o Democratas é o partido mais ativo na corrida eleitoral para 2012. Apesar de seu único vereador em Porto Alegre, Reginaldo Pujol, ser considerado da base de governo, líderes da sigla já se mexem para montar uma chapa com os partidos que fazem um bloco de oposição nacional aos governos liderados pelo PT. O deputado estadual Paulo Borges lançou sua candidatura. Acompanhado pelo presidente estadual da sigla, Onyx Lorenzoni, Borges já conversou com dirigentes do PSDB e do PPS. Pretende também conversar com o PP. E já fechou o apoio do pequeno PHS.
Entretanto, o próprio Paulo Borges admite que o que seu partido busca não é necessariamente a candidatura dele, podendo formar, por exemplo, uma chapa encabeçada pelo deputado federal Nelson Marchezan Júnior, do PSDB. Borges acredita que o cenário atual na capital gaúcha está muito concentrado em PC do B, PT e PDT, partidos que considera de esquerda ou de centro-esquerda. “O importante não é a minha candidatura, mas que Porto Alegre tenha esta opção que não seja de esquerda”, afirma.

Paulo Borges (DEM) se lançou candidato, mas partido pode formar uma chapa encabeçada pelo deputado federal Nelson Marchezan Júnior (PSDB) | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O presidente diretório municipal do PSDB, Mario Manfro, afirma que há semelhanças entre seu partido e o DEM, como  o fato de comporem a oposição em nível nacional. O dirigente ressalta, entretanto, que o PSDB está “bastante confortável” na base de José Fortunati. Manfro afirma que as eleições municipais já têm sido debatidas informalmente no partido e que os tucanos estão entre o apoio Fortunati ou à candidatura própria com Marchezan. O sentimento entre os militantes, segundo ele, é de indefinição. Outra alternativa, como o apoio a Paulo Borges, seria muito difícil: o PSDB só deve deixar Fortunati se for para lançar Marchezan. Segundo Manfro, a candidatura própria vai depender da aceitação dos eleitores. “Não vamos fazer uma aventura. Só teremos candidatura própria se pudermos não necessariamente de ganhar, mas fazer uma campanha do tamanho do partido”, explica.
O presidente municipal do PP, Tarso Boelter, conta que ficou sabendo do interesse do DEM apenas pela imprensa, mas que está disposto a conversar. “Vamos ouvir todos os lados”. O PPS, por sua vez, dificilmente vai aderir a uma candidatura conjunta com PSDB e DEM. O partido quer se “reposicionar” para 2012, segundo um dirigente, dando “meio passo à esquerda”, e buscando estreitar alianças com partidos como PSB e PC do B. Assim, o PPS deve ficar entre o apoio que já dá a José Fortunati e uma aliança com Manuela D’Ávila, com quem a sigla já formou chapa nas eleições municipais em 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça seu comentário!!