19 de agosto de 2015

'Sartori botou mais gasolina na fogueira'

A declaração do governador José Ivo Sartori de que vai cortar o ponto dos servidores estaduais paralisados por três dias repercutiu negativamente entre as principais lideranças sindicais do funcionalismo público estadual; "É mais uma piada dele. Botou mais gasolina na fogueira", avalia Leonel Lucas, presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar

Luís Eduardo Gomes, Sul 21 - A declaração do governador José Ivo Sartori na noite de terça-feira de que vai cortar o ponto dos servidores estaduais paralisados por três dias repercutiu negativamente entre as principais lideranças sindicais do funcionalismo público estadual.

“É mais uma piada dele. Botou mais gasolina na fogueira”, avalia Leonel Lucas, presidente da Associação Beneficente Antonio Mendes Filho (Abamf), que representa os servidores de nível médio da Brigada Militar.

Por outro lado, ele avalia que a declaração só incentiva mais a adesão à paralisação. “Isso não é nada. Um camarada que já atrasou o salário… Quando paga, acha que é uma grande coisa… Só incentiva mais o movimento”, afirmou.
Em resposta à grande mobilização das categorias do funcionalismo, que, de forma unificada, decidiram não trabalhar ou realizar operação padrão de hoje até sexta, o governador Sartori fez uma declaração de três minutos, sem direito a perguntas, em que anunciou que o ponto de quem fizer greve será cortado. Além disso, afirmou que está fazendo um “grande esforço” para pagar o funcionalismo em dia, mas não garantiu que isso ocorrerá no final deste mês, admitindo a possibilidade de um novo parcelamento.

Para a vice-presidente do Centro de Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Solange Carvalho, a declaração de Sartori demonstra falta de habilidade política.
“O governador realmente não tem habilidade política nenhuma para tratar com os movimentos sociais. Ontem foi mais uma demonstração”, disse. “Em vez de o governador receber, começar um diálogo com mais de 40 categorias, ele simplesmente não recebe e coloca que vai fazer cortes”.

Na avaliação de Solange, Sartori está adotando uma tática de promover o “terrorismo” contra os servidores e tentando colocar a sociedade contra o funcionalismo público. “Ele coloca o tempo todo como se a folha de pagamento fosse a responsável pela crise do Estado”.

Isaac Ortiz, presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm), classificou a declaração de Sartori como uma bobagem. “Antes de o governador dizer uma bobagem dessas de cortar o ponto, ele tem que saber como funciona a Polícia Civil. Nós trabalhamos de manhã, de tarde, de noite e de madrugada”, disse. “O que ele não sabe é que ele tem um passivo de muitos dias de trabalho sem a remuneração. Em vez de cortar o ponto, ele tem que nos dizer quando vai pagar as horas extras, que são muitas e muitas”, completou.


Joanes Machado da Rosa, presidente do Sindicato dos Técnicos-Científicos do Rio Grande do Sul (Sintergs), também avaliou negativamente a decisão do governo. “Parece que o governo está perdido. Não é atitude de governador do Estado, frente a um conjunto de reivindicações justas, um fato objetivo do parcelamento dos salários, ele se posicionar dessa maneira, fazendo essa ameaça explícita de que dia não trabalhado é dia descontado”, disse

Respaldo jurídico
Os movimentos sindicais também salientam que a paralisação está dentro da legalidade e que a jurisprudência jurídica está do lado dos servidores. “As formalidades frente à decretação da greve foram preenchidas. A greve é legal. A jurisprudência, no sentido de que não pode haver desconto, principalmente na questão de falta de pagamento, também nos favorece”, afirmou.
Ortiz, da Ugeirm, também faz a mesma avaliação de que o governo não poderá cortar o ponto. “Já tem uma decisão do Supremo de que ele não pode cortar o ponto. Nós estamos em local de trabalho, não abandonamos. Estamos ali, selecionando o que fazer, assim como ele se acha no direito de escolher o que vai pagar”, diz.

Impacto na greve
Para o presidente da Federação Sindical dos Servidores Públicos no Estado (Fessergs), Sérgio Arnoud, a ameaça de cortar o ponto das pessoas que aderirem à paralisação de três dias não deve desmobilizar o movimento grevista. “Não deve mudar nada, até porque quem não paga salário, não pode cortar salário. Ele não tem autoridade moral para agir dessa forma”, disse. “Em segundo lugar, a indignação dos servidores é muito grande. Só não foi votada a greve por tempo indeterminado, por conta da unidade do movimento”.
Arnoud também considera que as categorias do funcionalismo devem agora buscar o diálogo com a Assembleia Legislativa, não mais com o governo do Estado. “Até agora, o governo tomou uma série de atitudes e não abriu o diálogo. Ele despejou uma série de ações na AL. Então, agora o canal de dialogo é a Assembleia, não o governador”, disse.

Solange Carvalho, do Cpers, reconhece que o corte no ponto pode desmobilizar uma parte dos professores por ser uma das categorias com menores salários. “Sabemos que há uma grande adesão, mas é uma categoria bastante sofrida, então algumas pessoas podem desistir de aderir”.
Contudo, segundo ela, a hora é de “engrossar a luta”. “Tem ainda a questão das mudanças na previdência, o PLC 206″, disse, referindo-se ao projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal estadual, que, na avaliação dos servidores, tem por objetivo cortar direitos do funcionalismo.

Ortiz lembra ainda que a mesma tática de ameaçar cortar o ponto de servidores paralisados já foi utilizada pela ex-governadora Yeda Crusius no passado. “A Yeda tentou cortar nossa ponto e nós provamos na Justiça que ela nos devia muitas horas de trabalho. Esses três dias já estão mais do que trabalhados e ele (Sartori) nos deve muito mais do que isso”. afirmou.

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