Samir Oliveira
Não era campanha eleitoral, mas as bandeiras de partidos políticos aliados ao Palácio do Planalto dominavam o interior do ginásio Gigantinho na noite desta quinta-feira (26), em Porto Alegre. O local recebeu milhares de participantes do Fórum Social Temático que desejavam ouvir a presidente Dilma Rousseff (PT), principal integrante do painel Diálogos entre governos e sociedade civil.
Num breve discurso, a presidente antecipou o que pretende pautar na conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento, a chamada Rio +20, que ocorrerá na cidade do Rio de Janeiro em junho deste ano. Dilma garantiu que utilizará a ocasião, quando estarão reunidos chefes de Estado do mundo inteiro, para defender um novo modelo de desenvolvimento.
“O que estará em discussão é um modelo capaz de contemplar crescimento e redução de emprego, participação social e ampliação dos direitos”, resumiu. A presidente explicou que desenvolvimento sustentável “significa crescimento acelerado da economia, criação de empregos formais, expansão e distribuição de renda”.
Para ela, o país precisa “criar um amplo mercado de bens de consumo de massas para dar sustentação interna ao desenvolvimento”. Dilma observou, ainda, que deseja “transformar o Brasil cada vez mais num país de classe média”.
A presidente não poupou críticas aos países desenvolvidos em seu discurso. Sem utilizar uma única vez a expressão “neoliberalismo”, Dilma culpou as “receitas fracassadas” impostas na América Latina nos anos 1980 e 1990 pela crise. “Essas mesmas receitas estão agora sendo novamente postas em prática na Europa. Em grande parte do mundo desenvolvido busca-se enfrentar a crise com medidas fiscais regressivas, que têm consequencias sociais e ambientais nefastas”, condenou.
Dilma lembrou que, atualmente, a América Latina vem construindo “respostas progressistas e democráticas aos desequilíbrios internacionais”. “Nossos países crescem enquanto outras partes do mundo vivem a estagnação. Nossos países reduzem a pobreza e a desigualdade social, enquanto em outras regiões direitos são perdidos. Nossos países não sacrificam a soberania frente a pressões de potências, grupos financeiros ou agências de classificação de risco”, orgulhou-se.
Para a presidente, o agravamento da crise financeira na Europa pode colocar em risco a própria democracia nos países do continente. “A dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas parece aumentar cada vez mais nos países desenvolvidos, colocando em risco não apenas as conquistas sociais, mas a própria democracia”, alertou.
Citando especificamente o Brasil, Dilma lembrou que, hoje em dia, o país não precisa mais de milagres econômicos para se inserir positivamente no contexto global. “O lugar que o Brasil ocupa hoje no mundo não é consequência de nenhum milagre econômico, como acontecia no passado. É resultado da escolha do povo brasileiro, que soube optar por um outro caminho”, considerou.
Diplomata boliviano critica “privatização da natureza”
O ex-embaixador da Bolívia na ONU, Pablo Solón, discursou antes da presidente Dilma Rousseff no evento Diálogos entre governos e sociedade civil e, diferente da sucessora, tocou exclusivamente na questão ambiental. Diplomata do governo de Evo Morales, Solón criticou duramente a concepção capitalista do meio ambiente.
“O capitalismo nos leva a tratar a natureza como se fosse um objeto que pode ser mercantilizado sem nenhuma consequência”, criticou. O ex-embaixador disse esperar que, na conferência Rio +20, os chefes de Estado “reconheçam que a natureza tem suas próprias leis e que o homem, através da atividade econômica, as está violando”.
Solón alerta que há um projeto global de “privatização da natureza”, referindo-se à tentativa de se abrir mercados na chamada “economia verde”. “Juntos, assim como derrotamos a Alca, venceremos os ataques daqueles que querem privatizar a natureza”, conclamou.
Oposição também esteve presente e cobrou veto ao Código Florestal
Além das bandeiras dos partidos aliados ao governo federal – bem como de centrais sindicais mais dóceis ao Palácio do Planalto -, o Gigantinho recebeu na noite desta quinta-feira (26) grupos políticos de oposição à presidente Dilma Rousseff (PT).
Posocionados numa ala das arquibancadas bastante próxima ao palco, militantes do PSOL e do PSTU portavam cartazes exigindo o veto da presidente ao novo Código Florestal e condenando a violenta desocupação da comunidade de Pinheirinho, promovida pelo governo paulista de Geraldo Alckmin (PSDB).
Nos poucos momentos em que as caixas de som não ressoavam as vozes das autoridades, quando um relativo silêncio reinava no ambiente, o grupo começava a gritar: “Sou Pinheirinho! Não abro mão! Abaixo a repressão!”. Os manifestantes chegaram, inclusive, a vaiar falas da própria presidente Dilma, que pareceu não se incomodar com os protestos.
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