A
cidade portuária de Rio Grande passar por um momento de renovação.
Estimulado pelo polo naval, o município comemora uma série de novos
empreendimentos
Foto:Marcelo G. Ribeiro |
O desenvolvimento da construção naval no Estado fez com que diversos
investimentos de outras atividades econômicas voltassem seus olhos para
Rio Grande. Prédios residenciais, hotéis, shopping centers,
supermercados, entre outros complexos, começam a mudar o perfil do
município.
O entusiasmo com a expansão da cidade é tamanho que brincadeiras na
internet espalham previsões como: duplicação da rodovia BR-392 será
inaugurada com a presença dos presidentes Dilma e Obama, movimentações
na Boverg ultrapassam as da Bovespa e Arena Aldo Dapuzzo (estádio do São
Paulo de Rio Grande) sediará jogos da Copa de 2014 no Rio Grande do
Sul. Essas projeções dificilmente se tornarão realidade, mas demonstram a
euforia com os empreendimentos que começam a tomar forma.
Um dos investidores que percebeu essas oportunidades foi Francisco
Novelletto, dono da rede de lojas Multisom e também conhecido por ser o
presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF). O dirigente decidiu,
com o empresário Vilson Roncatto, presidente do Veranópolis Esporte
Clube, criar a incorporadora Novelletto-Roncatto e apostar na construção
civil.
No município da Metade Sul gaúcha, a empresa está entregando neste
primeiro semestre um edifício residencial com 60 apartamentos - todos
vendidos -, e realiza outro com 110 unidades que deverá ser concluído em
2013. Também começa a construção de um edifício comercial, com 180
salas. “O grande lançamento será na praia do Cassino, um residencial
estilo Punta Del Leste, que deverá ficar pronto em cerca de 24 meses”,
salienta o empresário. Para os 132 apartamentos ofertados há cerca de
400 reservas. Unidades de três quartos desse último complexo custarão na
faixa de R$ 400 mil a R$ 450 mil. Todos os projetos desenvolvidos hoje
pela Novelletto-Roncatto deverão absorver recursos de aproximadamente R$
50 milhões.
Noveletto recorda que estava acompanhando o potencial da cidade e
esperava que os investimentos na construção naval impulsionassem a
economia da região. “Quando eu falei em Rio Grande para o Roncatto, ele
me taxou de doido. Hoje está apaixonado pela ideia”, afirma o dirigente.
Sobre outro assunto conhecido por Noveletto, o futebol, ele acredita
que os clubes da região não estão sabendo explorar o desenvolvimento
econômico. “Na hora em que eles conseguirem isso, poderão ser mais uma
força do futebol gaúcho”, prevê.
A construção de dois shopping centers também está prevista para Rio
Grande. A empresa 5R Shopping Centers investe na edificação de um
complexo imobiliário no qual haverá um shopping center, dois hotéis,
quatro torres comerciais, outras quatro residenciais e um centro
cultural. Todos os projetos da companhia na cidade serão erguidos na
área do antigo Jockey Club do município. “A sociedade rio-grandina
merece um local à altura do crescimento que apresenta”, enfatiza o
diretor de Operações da 5R Shopping Centers, Cesar Garbin. “Além disso, o
local onde o empreendimento será executado tem muito potencial.”
O Shopping Praça Rio Grande foi idealizado exclusivamente para Rio
Grande e região e inspirado em elementos portuários. O shopping terá 25
mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), quatro lojas âncoras,
um hipermercado, seis semiâncoras, 96 lojas-satélite, um complexo de
lazer, salas de cinema e 1,7 mil vagas fixas de estacionamento. Durante a
obra, serão gerados cerca de mil empregos diretos e mais 1,5 mil após a
sua abertura.
Junto ao shopping será erguido um complexo imobiliário. O terreno para
todos os empreendimentos mede 190 mil metros quadrados. Em uma primeira
etapa, começará a construção do shopping e um dos hotéis, depois
iniciará a edificação das torres comerciais e residenciais, que somarão
oito prédios, e um centro cultural aproveitando as antigas arquibancadas
do hipódromo, que serão revitalizadas. O investimento só no shopping
deve chegar a R$ 120 milhões. As obras do shopping center e de um dos
hotéis estão previstas para serem entregues no segundo semestre de 2013.
A inauguração do Parque Shopping Rio Grande, da Aquário Empreendimentos
Imobiliários, também deve ocorrer até o final de 2013. Em fevereiro, as
Lojas Renner confirmaram a instalação de uma unidade âncora no local. O
Parque Shopping deverá ter 170 lojas, sendo três delas âncoras, e uma
ABL de 25 mil metros quadrados, junto à estrada que leva ao balneário do
Cassino.
Serão mais dois magazines, um hipermercado, duas grandes lojas de
eletrodomésticos, um estabelecimento de artigos esportivos e seis salas
de cinema, além de um parque infantil, um boliche e uma praça de
alimentação com três restaurantes e 15 operações de fast-food. O
estacionamento terá capacidade para 1,5 mil veículos. O investimento na
construção do shopping será de R$ 150 milhões.
Prefeitura projeta salto de investimentos no município
A previsão de receita total do município para 2012 é de cerca de R$
340,4 milhões e de investimentos em torno de R$ 64,6 milhões, de acordo
com dados da prefeitura de Rio Grande. A área que receberá o maior
aporte de recursos será a da habitação, com cerca de R$ 17,3 milhões.
Confirmando essa previsão, o percentual de investimentos em 2012 em
relação à receita passa para 18,99 %, contra 7,21% em 2010 e 10,89% no
ano passado. Segundo o Índice Firjan de Gestão Fiscal (IFGF), que avalia
a qualidade de gestão fiscal dos municípios brasileiros, em 2010, Rio
Grande apresentou boa gestão fiscal (IFGF entre 0,6 e 0,8 pontos).
O município faz ótima administração dos restos a pagar, possui baixos
custos com juros e amortizações e tem geração de receitas próprias
satisfatória. Contudo, Rio Grande não alçou melhores posições no ranking
nacional do IFGF (1.457º no País) devido aos elevados gastos com
pessoal e, sobretudo, por causa do baixo nível de investimentos.
O prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, aponta que fazer o
desenvolvimento da cidade acompanhar de uma maneira racional o
crescimento econômico da região é o principal desafio dos poderes
públicos. “Queremos que esse momento seja duradouro e, para isso, temos
que dar condições de infraestrutura, saúde, educação e capacitação
profissional”, ressalta o dirigente. Ele acrescenta que a
sustentabilidade virá da criação de outras cadeias produtivas a partir
do polo naval, diversificando as atividades através das áreas de
serviço, comércio, indústria pesqueira, agricultura, energia eólica etc.
Branco destaca que um projeto que apoiará esse desenvolvimento é o do
parque tecnológico, conduzido através de uma parceria entre a
prefeitura, governo do Estado e a Universidade Federal do Rio Grande
(Furg). A construção do empreendimento deverá ser finalizada no próximo
ano. Um grupo de trabalho, coordenado pelo secretário de Assuntos
Extraordinários, focado na área de desenvolvimento do município,
Gilberto Pinho, discute as demandas e o planejamento futuro do município
envolvendo mobilidade urbana, segurança pública e habitação, entre
outros temas.
Um dos focos da Quip está no treinamento de soldadores.Foto:Marcelo G. Ribeiro |
Contudo, não é apenas essa medida do governo federal que conta com o
apoio da Petrobras, que tem como objetivo capacitar pessoal da região. A
Quip (primeira empresa a implementar uma plataforma no município de Rio
Grande, a P-53, finalizada em 2008) também aposta no treinamento de
trabalhadores locais. O diretor-geral da Quip, Miguelangelo C. Thomé,
argumenta que a atividade é necessária, porque a Metade Sul gaúcha não
tinha tradição dentro desse setor.
O executivo comenta que, ao final de 2011, cerca de 80% da mão de obra
que a Quip utilizava em seus projetos em Rio Grande era proveniente do
Estado, sendo que em torno de 70% era oriunda das proximidades do
município (quando da implantação da P-53, os números eram praticamente o
inverso). Hoje, um dos focos da companhia está no treinamento de
soldadores.
A expectativa de que novos estaleiros se instalem no Rio Grande do Sul é
vista com bons olhos por Thomé, caso essas empresas dividam a
responsabilidade de qualificação de trabalhadores. Entretanto, ele
adverte que, se houver uma concorrência acirrada por profissionais já
formados, pode ocorrer um desequilíbrio. “Pode chegar um retardatário no
jogo, querer dar uma de esperto, e tentar contratar mão de obra que
esteja empregada”, alerta.
O dirigente admite que a cultura da indústria de óleo e gás é “muito
perversa”, tendo uma característica cíclica. “Uma hora há uma grande
demanda e na outra dá uma parada”, detalha. A esperança é de que a
exploração do pré-sal possa permitir ao Brasil certa estabilidade de
trabalho nesse segmento. Thomé lembra que a Petrobras reafirmou a
intenção dos planos de investimentos bilionários, o que impulsionará a
cadeia do petróleo e gás no País pelos próximos dez anos, uma vez que a
estatal prioriza o aproveitamento do conteúdo local.
No entanto, ele reitera que se muitos estaleiros forem constituídos,
poderá haver dificuldades quanto à relação entre oferta e demanda mais
adiante. O dirigente acrescenta que as empresas brasileiras não são
ainda suficientemente competitivas para disputar encomendas
internacionais com países que possuem legislações trabalhistas muito
mais flexíveis.
Outra preocupação de Thomé é que o desenvolvimento social e da cidade
acompanhe o crescimento econômico em Rio Grande. Ele salienta que é
preciso o poder público investir em infraestrutura. “É aí onde está o
gargalo”, indica o dirigente. Thomé antecipa que será preciso ter um bom
planejamento habitacional na região para evitar, por exemplo, eventuais
problemas como a favelização.
Quip investe para oferecer multiprojetos
Quando o diretor-geral da Quip, Miguelangelo C. Thomé, entrou na empresa
em 2009, o conselho de acionistas deixou claro que a principal tarefa
era passar a Quip de uma companhia “monoprojeto” para uma
“multiprojetos”. “Havia a consciência de que as oportunidades
apareceriam se fossemos competentes para aproveitá-las”, revela o
executivo. Uma prova concreta de que esse objetivo mantém-se é a
ampliação do canteiro da empresa em Rio Grande.
Em janeiro, iniciaram-se as obras de expansão do cais. A iniciativa está
dividida em duas fases. A primeira, que foi acelerada para ser
concluída antes de agosto, contempla o prolongamento do cais atual para
poder trabalhar com uma segunda plataforma. A segunda etapa, prevista
para 2013, implantará um novo cais, com investimento previsto de cerca
de R$ 100 milhões.
A Quip trabalha nos projetos das plataformas P-55 e P-63 e ainda dá
apoio de engenharia, de logística e de gestão aos projetos da P-58 e da
P-62 (de responsabilidade de acionistas do grupo). Ao final de
fevereiro, cerca de 4 mil pessoas estavam atuando nos empreendimentos. A
chegada do casco da P-63, prevista para este ano, deverá implicar mais
500 a 600 postos de trabalho.
Diferentes sotaques invadem a cidade e movimentam negócios
A mudança de rumo da cidade com o estímulo da atividade de construção
naval é claramente sentida pelos moradores de Rio Grande. “Escutamos
diferentes sotaques de pessoas de vários estados”, comenta a
proprietária do Restaurante e Lancheria Zito, Fátima Marques. Ela
acrescenta que se percebe um grande fluxo de nordestinos e cariocas.
A empreendedora considera bom o progresso que a indústria naval tem
gerado. “Mas tem que evitar que isso também traga problemas, como a
violência”, alerta. Apesar de a vida no município ainda ser considerada
tranquila, os habitantes mais antigos reclamam do aumento do trânsito de
veículos e da valorização dos aluguéis.
Fátima relata que uma dificuldade enfrentada pelo setor de serviços para
aproveitar a nova massa de consumidores que chegaram à cidade é a
distância do polo naval do Centro. Mesmo assim, no seu restaurante,
quando o pessoal de fora vai experimentar seus pratos, os mais pedidos
são os frutos do mar. Ela adotou uma estratégia para que seu negócio não
seja afetado por uma eventual sazonalidade das operações do polo. A
receita, revela a empresária, é cativar um público fiel.
Fonte: http://camaquanoticias.blogspot.com.br
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