Igor Natusch
Algumas pessoas ironizaram Celso Roth, o sempre cauteloso treinador gremista, ao afirmar que a partida contra o Cruzeiro seria um confronto direto e de grande importância. Tratou-se, de fato, de uma certa licença poética do treinador – até porque, pelo que se pode ver hoje, o time mineiro está em uma situação lamentável, ao contrário do gráfico gremista, que até oscila de vez em quando, mas mantém uma tendência ascendente. De qualquer modo, a vitória de 2 a 0 obtida no Olímpico neste domingo (2) pode sim marcar uma espécie de ponto de virada para o Grêmio, extinguindo de vez o capítulo do rebaixamento e colocando o tricolor gaúcho em um novo grupo: o dos que sonham alto com a Libertadores da América. Rafael Marques, proscrito no Grêmio até menos de um mês atrás, e Escudero fizeram os gols gremistas.
O time gaúcho nem precisou fazer um partidaço para ser folgadamente superior ao Cruzeiro no finzinho de tarde em Porto Alegre. Em teoria, a Raposa tem peças para montar um time respeitável, no mínimo; o problema é que, agrupadas, elas não funcionam. Havia qualidade na troca de passes, mas absoluta incapacidade de fazer com que isso resultasse em chances reais de gol. O Cruzeiro teve mais a bola, mas quem chegava era o Grêmio – não só com o gol de Rafael Marques, logo aos 4mins de jogo, mas em uma série de outras oportunidades. Mesmo com a bola entre seus pés, o Cruzeiro foi dominado o jogo todo. Pelo mais simples dos motivos: o Grêmio é um time, o Cruzeiro (que teve a estreia de Vagner Mancini como técnico, aliás), não.
Proponho um exercício rápido ao leitor: recite a escalação gremista, sem consultar nada, de cabeça mesmo. A defesa talvez seja mais difícil de desenhar, mas do meio para frente fica tudo muito mais fácil, não é? Pois aí, acredito eu, está a explicação da melhora gremista, ao ponto de ser a segunda melhor campanha do returno, atrás apenas do Fluminense. Com a repetição, tudo funciona melhor. Marquinhos e Douglas, antes tidos como jogadores tão iguais que jogar juntos seria impossível, conseguiram encontrar um bom entrosamento, enquanto a velocidade de Escudero impede que a lentidão tome conta do setor. Pelos lados, o fugitivo Mário Fernandes (muito aplaudido o jogo todo) e Júlio Cesar aparecem sempre de forma qualificada, enquanto Fernando e Rochemback encontraram grande sintonia na proteção da zaga. Verdade que a função de frente não está funcionando a contento ainda – André Lima anda enfrentando dificuldades e Brandão mostrou com clareza hoje o quanto está distante de ser o centroavante que o Grêmio precisa. Mas os progressos, especialmente quando lembramos a situação contra o mesmo Cruzeiro no primeiro turno, são visíveis.
Na próxima quarta-feira, o Grêmio encara o Santos no Olímpico, partida atrasada do primeiro turno. Vencendo, chega a 39 pontos – 12 pontos distante do abismo, cinco para a paradisíaca vaga na Libertadores. Trata-se, evidentemente, de um jogo decisivo, que pode mudar toda a perspectiva gremista no Brasileirão. Talvez ainda dê para usar o argumento de Celso Roth e dizer que esse também será um confronto direto. Mas não resta dúvida: se os 3 pontos vierem, a turma com a qual o Grêmio briga passará a ser outra. E delira o torcedor gremista, tomado por uma febre que tem gosto de competição continental.
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