
"...muitas foram às batalhas em que as milícias negras foram decisivas nas vitórias contra as tropas imperiais."
Há mais de 30 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira sugeriu que se  comemorasse em 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra, pois  essa data era mais significativa para a comunidade negra brasileira do  que o 13 de maio, data da abolição da escratura assinada pela Princesa  Izabel. O 20 de novembro homenageia o dia da morte de Zumbi – que  chefiou a luta contra a escravidão no Brasil. Para marcar a data, o  secretário de assuntos internacional do PT/RS Lúcio Costa recorda a luta  dos lanceiros negros na Revolução Farroupilha.
Leia artigo na íntegra
OS LANCEIROS NEGROS E O MASSACRE DE PORONGOS
De Lúcio Costa
Em novembro, mês que se comemora a consciência negra, é tempo de  igualmente recordar os 167 anos do massacre de Porongos, ultimo combate  da Revolução Farroupilha, insurreição que varreu o Rio Grande do Sul e  parte de Santa Catarina de 1835 a 1845.
Perpassada por interesses que opunham as várias facções dos  revoltosos foram inúmeras as contradições da Republica Rio-Grandense – a  começar pela tardia proclamação da independência e da República feitas  somente após o início da rebelião e proclamada no fragor dos campos de  batalha pelo general Antônio de Souza Netto. No entanto, a maior das  contradições farroupilhas, sem lugar a dúvidas, foi o tratamento dado a  chamada “questão servil”.
Nos impasses face à questão da abolição da escravidão negra  revelaram-se as contradições do heterogêneo movimento Farroupilha que  reunia desde estancieiros – setor social hegemônico no processo – a  setores urbanos e pobres dos campos; de conservadores travestidos de  republicanos, mas igualmente republicanos que de armas nas mãos lutaram  contra o Império e a escravidão.
Desde o início, a luta dos farroupilhas contou com importante  participação de negros e índios. Os Lanceiros Negros foram compostos  pela parcela mais pobre e oprimida do Rio Grande e, ocuparam relevante  papel na Revolução Farroupilha, pois muitas foram às batalhas em que as  milícias negras foram decisivas nas vitórias contra as tropas imperiais.
Os Lanceiros Negros quando de sua fundação eram organizados em duas  divisões: uma de cavalaria, e a outra de infantaria, criados  respectivamente em 12 de setembro de 1836 e em 31 de agosto de 1838.
É num cenário em que, decorridos quase dez anos de guerra civil e  isolada a revolução, a liderança farroupilha buscava por fim ao conflito  celebrando um acordo de paz com o Império, dar-se-á o massacre de  Porongos.
Em 14 de novembro de 1844, os lanceiros negros estavam acampados no  cerro de Porongos sob comando do general David Canabarro, quando foram  atacados de surpresa por forças sob o comando de Francisco Pedro de  Abreu, o Moringue.
O Corpo de Lanceiros Negros tentou resistir ao ataque, mas foram  quase todos mortos. Teixeira Nunes, o Gavião, principal líder dos  lanceiros negros, foi ferido durante o confronto e, dias após, sem  condições de defender-se, foi assassinado. Morreram 100 negros em  Porongos, sobreviveram 20 que foram mandados para o Rio de Janeiro onde  provavelmente voltaram a ser escravos.
Conforme vários historiadores, David Canabarro, um dos líderes da  República, ordenou desarmar os Lanceiros Negros na noite de 14 de  novembro de 1844. A determinação foi transmitida na mesma noite do  ataque imperial.
Desarmados os negros republicanos foram dizimados. Tal extermínio  prestou-se a, de um lado, diminuir as exigências dos revoltosos que a  época estavam em tratativas de paz com o Império e, por outro lado,  outro lado, a garantir a estabilidade da ordem imperial-escravocrata  face ao risco representado por um grande contingente de negros com  experiência militar.
Acresça-se a isso que, o extermínio dos Lanceiros Negros, ao esvaziar  a exigência dos republicanos gaúchos de alforria para os negros  combatentes, tornou possível a paz de Poncho Verde de 1845.
O desastre dos Porongos levou Canabarro a um tribunal militar  farroupilha. Com a paz o feito continuou na justiça militar do Império.  No entanto, em 1866 o processo foi arquivado sem ter sido concluído.
Em Porongos, o acordo das elites cobrou o holocausto dos Lanceiros e,  junto com esses o sepultamento da República Rio-Grandense face ao  Império escravista dos Bragança e Orleans.
Por Lúcio Costa – Advogado, Secretário de Relações Internacionais do PT do RS.
 
 
 
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