Patrícia Poeta esteve em Brasília para uma entrevista especial com a presidente Dilma Rousseff.
A presidente Dilma Rousseff recebeu a apresentadora Patrícia Poeta no Palácio da Alvorada, a residência oficial da presidência. E falou sobre sua intimidade em casa. Chegamos ao Palácio da Alvorada de manhã cedo. Um bonito dia de sol, mas com o ar muito seco: umidade a 13%. O caminho pelos jardins é longo até que a fachada do palácio se descortina. Lindo.
Logo, a presidente Dilma Rousseff aparece. Chega junto com a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, de um assessor e do cabeleireiro e maquiador Celso Kamura, que ela chamou de São Paulo.
Ela cumprimenta toda nossa equipe. E se mostra de bom humor.“Você tem que ter patins para viver aqui. Ou um skate”, brinca.
Patrícia Poeta: Agora vamos trabalhar?
Dilma Rousseff: Vamos embora. Vamos trabalhar
Fantástico: São 9h30 da manhã, 8 de setembro, quinta-feira. O que a senhora já fez hoje? Conta para a gente.
Dilma: Eu já li todos os jornais, pelo menos a síntese dos jornais, né? Me preparei para recebê-la, o que não é pouco, né, Patricia? E já fiz vários telefonemas, a gente começa telefonando.
Patrícia: A senhora está gostando de morar aqui, presidente?
Dilma: Olha, é muito bonito. É bom de manhã, que você pode caminhar lá fora. Tem uma grande pista que você leva... Como eu estou mais lenta, é uma hora e dez. Um palácio não é um local feito para as pessoas morarem.
Patrícia: Por isso a senhora deve usar mais a parte de cima.
Dilma: Geralmente é o que todo mundo usa para viver, um quarto e uma sala. Se tivesse uma cozinha era ótimo, mas essa cozinha eles fizeram do outro lado. Para fazer um café de noite, se você tiver de andar um quilômetro, é complicado.
Patrícia: Quem vem lhe visitar aqui no Palácio?
Dilma: Olha, Patricia, vem a minha família basicamente.
Patrícia: Agora o espaço é grande, a senhora já teve tempo de sentar em todos esses sofás ou não?
Dilma: Olha, eu já, viu? Vou te dizer com sinceridade.
Patrícia: Já inaugurou todos, então.
Dilma: Porque quando é mais pessoas eu recebo do lado de cá, quando é menos eu recebo do lado de lá.
Patrícia: A senhora parece apreciar arte bastante.
Dilma: Eu gosto muito, Patrícia, e aqui é um lugar que você convive com isso. Tem uma tapeçaria do Di (Calvalcanti), como você pode ver. Aqui não dá pra botar muito quadro porque tem pouca parede. Mas na verdade, a parede é a natureza.
Patrícia: O que que tem a sua cara aqui, que a senhora gosta, que a senhora se enxerga?
Dilma: A biblioteca. Acho aquela biblioteca ela muito bonita também. E um local muito bom, eu gosto muito de conviver com livro. E livro. Apesar de eu ter feito um esforço e aprendi a ler no Ipad. Eu leio hoje e-books, eu gosto de página, gosto de papel, gosto do cheiro de papel. Uma coisa de infância, sabe?
Mas em palácio presidencial, biblioteca não é só ambiente de leitura. É palco de reuniões, muitas reuniões. E ela gosta.
Dilma: Tem uma vantagem aqui, vou te explicar qual é: não tem ar-condicionado.
Patrícia: A senhora não gosta de ar-condicionado?
Dilma: Se eu puder evitar, eu não gosto de ar-condicionado. Então você abre essa cortina e abre a janela e a reunião, eu posso ficar mais tempo fazendo reunião, sem aquela coisa do ar-condicionado, que é do Planalto.
Na sala seguinte, mais revelações sobre os gostos da primeira presidente mulher da história do Brasil.
Patrícia: Como é que é acordar todo dia como presidente da República?
Dilma: É como todo mundo acorda, Patrícia.
Patrícia: E ter que escolher, por exemplo, uma roupa, tem que estar sempre muito bem alinhada, tem que se preocupar com isso também.
Dilma: Geralmente, Patricia, eu acordo cedo porque eu caminho. Ai eu volto e aí você tem de, de fato, procurar uma roupa rápido.
Patrícia: Tem alguém que escolhe as suas roupas, tem alguém que lhe ajuda nessa tarefa?
Dilma: Não. Não. É inviável, é pouco eficiente, você tem de dar conta das suas necessidades. Pelo fato de você ter virado presidente, você não deixa de ser uma pessoa e é bom que você seja responsável por tudo que diz respeito a você mesma.
Patrícia: É impressão minha ou a senhora tem usado mais saia, mais vestidos?
Dilma: Ah, eu tenho usado.
Patrícia: Hoje, por acaso, a senhora não está usando, mas eu tenho visto.
Dilma: Eu tenho usado mais saia do que antes. Eu poderia continuar usando só calça comprida, mas eu acho que pelo fato de eu ser mulher tem horas que eu tenho de afirmar essa característica feminina.
Patrícia: Pede isso, né?
Dilma: É, pede.
Patrícia: Tem tempo pra cuidar do visual, se preocupar com isso?
Dilma: Isso faz parte da minha condição de presidenta, não posso sair sem ter um cuidado com a minha aparência.
Patrícia: Quem é que faz, por exemplo, a sua maquiagem?
Dilma: Eu mesma.
Patrícia: A senhora aprendeu a se maquiar?
Dilma: Eu sabia desde, há muitos anos, eu não maquiava porque eu não queria.
E com a deixa de mostrar mais uma tapeçaria de que gosta muito, a presidente muda de assunto. Seguimos o tour pelo palácio.
Patrícia: Sua mãe, dona Dilma Jane, e sua tia, dona Arilda, seguem morando com a senhora aqui no Palácio?
Dilma: É, é, diríamos assim que não é constante. Às vezes elas vão para Belo Horizonte. Mas eu tenho tentado fazer com que minha mãe fique aqui permanentemente.
Patrícia: Estou perguntando, porque, no ano passado, eu entrevistei as duas e elas pareciam bem animadas em viver aqui. Sua mãe disse que queria se divertir, queria assistir a um bom filme, aqui no Palácio da Alvorada.
Dilma: Mas elas estão bem.
Patrícia: Têm assistido a filme?
Dilma: Têm assistido mais a novela. A verdade é essa.
Patrícia: E a senhora assiste com elas?
Dilma: Hoje não dá. Não tenho mais tempo, mas até assisto um capítulo aqui, outro ali. E geralmente procuro assistir os últimos.
Patrícia: No Palácio do Planalto é a senhora que manda. E aqui no Palácio da Alvorada, é a senhora ou sua mãe?
Dilma: Acho que nenhuma de nós mandamos. Isso funciona por si só, viu?
O palácio tem 143 empregados. Mas a presidente conta que usa pouco do que tem à disposição. Não usa, por exemplo, as oito suítes da área privativa, nem o cinema com 30 lugares. A sala de ginástica, só vem quando chove. E a de jogos serve apenas para ela gravar seu programa de rádio.
Patrícia: A senhora não traz nem o netinho aqui para brincar?
Dilma: Ele não anda. Ele está para andar, ele engatinha.
Patrícia: A senhora tem recebido a visita dele, do seu netinho, ele vem com frequência?
Dilma: Ele está aqui.
Patrícia: Ah, eles estão aqui esta semana, né? Chegaram no final de semana passado?
Dilma: Chegaram e agora eles vão embora depois que ele fizer o aniversário que é sexta.
Patrícia: De um aninho já?
Dilma: De um aninho.
Patrícia: O que a senhora costuma fazer com ele?
Dilma: Fico o dia inteiro com ele.
Patrícia: Brinca com ele?
Dilma: Brinco, levo ele pra nadar.
Patrícia: É verdade que a senhora canta pro seu netinho de vez em quando?
Dilma: Ué, faço tudo que toda avó faz, tudo.
Patrícia: Está curtindo esse papel de avó?
Dilma: Olha, eu vou te falar, é um papel fantástico. É mãe com açúcar.
E num lugar inusitado, passando pela garagem, surge o assunto saúde. Paramos.
Patrícia: Como é que está a sua saúde?
Dilma: A minha está boa. Agora, estou tentando, como sempre, emagrecer.
Patrícia: Mas a senhora pretende emagrecer quantos quilos? O sonho de consumo?
Dilma: Ah, não é muito, uns quatro, cinco quilos.
Patrícia: Mulher quer sempre perder um pouquinho, né?
Dilma: Não, é voltar o que eu era antes da eleição.
Patrícia: E a senhora tem passado por um acompanhamento médico depois do câncer tratado?
Dilma: Olha, eu sistematicamente acompanho, mas agora é de seis em seis meses. A questão do câncer hoje é uma questão resolvida quando você consegue detectar cedo. Isso é muito importante. Se as pessoas fazem prevenção, elas têm, então, condições de detectar e tratar. Foi o que aconteceu comigo.
Aos poucos, a presidente vai nos encaminhando para cima e para fora.
Dilma: A parte que eu acho mais bonita desse palácio é você olhar ele de lá pra cá. Meu neto fala... A primeira palavra que eu acho que ele falou é ema.
Além do netinho presidencial, o palácio hospeda hoje outros nove bebês. Filhotes de emas que nasceram na semana passada.
Dilma: Tem uma chocando. É um emo que choca.
Aproveito para a última pergunta que eu queria fazer antes de falarmos de política.
Patrícia: Qual o seu prato preferido?
Dilma: Arroz, feijão, bife, batata frita e salada de tomate com alface, que era isso que eu comi com a minha infância.
Patrícia: Agora quem é que cozinha pra senhora aqui?
Dilma: Tem um chefe, tem um cozinheiro, é ele que cozinha.
Patrícia: A senhora sabe cozinhar?
Dilma: Eu sei. Algumas coisas eu faço direito; outras, não.
Patrícia: Eu sei uma coisa que a senhora sabe fazer.
Dilma: Uma sopa de beterraba.
Patrícia: Mas tem uma outra coisa que a senhora sabe fazer bem.
Dilma: O quê?
Patrícia: Omelete.
Dilma: Ah, omelete. O problema meu com omelete é que ele gruda. Eu não sou boa de omelete, não. Sou boa de ovos revueltos (ovos mexidos).
Ela avança mais um pouquinho. Fica claro o motivo. São 10h30 da manhã. Normalmente ela sai para o trabalho às 9h.
Dilma: Você já notou que eu comecei a ficar indócil, não é?
Patrícia: Já, reparei pela perninha, já reparei.
Dilma: Estou indócil.
Patrícia: Está na hora de ir para o Palácio do Planalto, certo?
Dilma: Certíssimo.
Patrícia: A gente pode acompanhar a senhora até lá?
Dilma: Com o compromisso de serem bem rápidos.
Patrícia: Está certo, temos um acordo, então.
Dilma: Temos um acordo, então.
O trajeto entre os Palácios da Alvorada e do Planalto - a casa e o trabalho da presidente da República - leva quatro minutos. É ela quem faz questão de me destacar esse detalhe de eficiência e rapidez. Duas qualidades que aprecia muito.
Patrícia Poeta: Aqui é o gabinete da presidência da República, certo?
Dilma Rousseff: É verdade.
Patrícia: A senhora senta em frente à mesa para reuniões com os ministros. As obras que a senhora fez questão de trazer de Djanira, né?
Dilma: Uma homenagem à mulher, uma das maiores pintoras desse país.
Patrícia: E eu vi que tem também uma fotinho do seu neto na sua mesa.
Dilma: Tem uma fotinho da minha filha e do meu neto.
Perguntamos à presidente sobre a importância das mulheres no seu governo. Em especial das ministras Gleisi Hoffmann, Miriam Belchior e Ideli Salvatti.
Patrícia: O comando político tem três mulheres. Como é que tem funcionado esse clube?
Dilma: Eu acho que é sempre bom combinar homens e mulheres, porque nós todos omos complementares. A mulher, eu acho, que ela é mais analítica, ela tem uma capacidade maior de olhar o detalhe, de procurar aquela perfeição, uma certa... Nós somos, assim, mais obcecadas.
Patrícia: E os homens?
Dilma: os homens têm uma capacidade de síntese, dão uma contribuição no sentido de ser mais, eu diria assim, objetivos no detalhe, eles sintetizam uma questão, a mulher analisa. Então, essa complementaridade é muito importante.
Dilma: Mulher é carinhosa, cobra e tem uma coisa que eu acho fundamental, a generosidade. Você tem que cobrar, tem que ficar ali em cima, mas tem horas que você tem que ser generosa também.Mulher é capaz, porque, senão, não educava filho.
Patrícia: Agora e as reuniões com elas, como é que são? São mais descontraídas, são mais duras? A senhora estava fazendo uma comparação em relação aos homens.
Dilma: Não, não, eu acho que é muito similar.
Patrícia: Em uma reunião dessas, por exemplo, tem um momento mais mulher? Bolsa, sapato, filho, neto?
Dilma: Tem não.
Patrícia: Tem não. Nem no cafezinho?
Dilma: Na verdade, não tem, viu? Não. Tem neto, viu? Agora que tem uma quantidade de gente com neto e todo mundo quer mostrar o seu atualmente.
Patrícia: Agora, presidente, vamos esclarecer algo que virou meio lenda aqui, que é o jeitão da presidente, que é o estilo. A senhora é durona mesmo?
Dilma: Uma vez eu disse e ninguém entendeu. Eu disse achando que eu estava fazendo uma ótima piada. É que eu sou a única mulher dura cercada de homens todos meigos aqui. Nenhum é duro, nenhum é tranquilo e firme, então, é uma coisa absurda. Só porque eu sou mulher e estou em um cargo que, obviamente, é de autoridade, eu tenho que ser dura. Se fosse um homem, você já viu alguém chamar... Aqui no Brasil alguém falar: 'Não, fulano está num cargo e ele é...
Patrícia: Durão.
Dilma: ...uma pessoa durona, não. Homem pode ser durão, mulher não.
Patrícia: A senhora acha, então, que é pelo fato de a senhora ser mulher?
Dilma: É, e eu sou uma pessoa assertiva. Que nesse cargo que eu ocupo, eu tenho que exercer a autoridade que o povo me deu.
Dilma: Eu tenho que achar que podemos sempre ser um pouquinho mais, que vamos conseguir um pouquinho mais, e que vai sair um pouco mais perfeito e que a gente vai conseguir. Se eu não fizer isso, eu não dou o exemplo e as coisas não saem.
Patrícia: E vale bronca nessa hora, por exemplo?
Dilma: Olha, a bronca faz parte e é uma bronca meiga. É aquela...
Patrícia: Dá um exemplo para gente.
Dilma: 'Isso não está certo, não pode ser assim'.
Patrícia: Nesse tom?
Dilma: Ah, é, é esse tom. 'Não está certo e não pode ser assim'.
Patrícia: O que tira a senhora do sério?
Dilma: Eu vou te falar, eu acho que quando a gente não deu o melhor de si, me tira do sério.
Patrícia: Aí, a senhora vai lá e cobra e é aí que entra bronca.
Dilma: Mas sabe o que é? Eu cobro de mim também.
Patrícia: E quando falam, assim, do seu temperamento, isso incomoda a senhora de alguma forma ou não, a senhora não está nem aí para isso?
Dilma: Sabe o que é, Patrícia? Ossos do ofício. Tem vários ossos do ofício de ser presidente. Um é esse. O caso, por exemplo, da luta contra a corrupção é osso do oficio da presidência, ou seja, é intrínseco à condição de presidente zelar para que o dinheiro público seja bem gasto. Depois, eu tenho uma responsabilidade pessoal também nessa direção.
Patrícia: A senhora não imaginava, por exemplo, que fosse ter que trocar quatro ministros em tão pouco tempo, três deles, pelo menos, ligados a denúncias de corrupção, esperava isso?
Dilma: Olha, Patrícia, eu espero nunca trocar nenhum ministro e muitos deles eu não troquei exatamente por isso. Vamos e venhamos. O ministro Jobim, Nelson Jobim, saiu por outros motivos.
Patrícia: Mas os outros três...
Dilma: Eles ainda não foram julgados, então não podem ser condenados.
Patrícia: Mas isso foi faxina ou não foi, presidente?
Dilma: Eu não acho, eu acho a palavra faxina errada, porque faxina você faz às 6h da manhã, e às 8h, ela acabou. Atividade de controle do gasto público, na atividade presidencial, jamais se encerra.
Patrícia: Por que a senhora acha que nesses oito anos e oito meses do governo de PT, eles não foram capazes, não foram suficientes para acabar com a corrupção, já que essa é uma das bandeiras do partido?
Dilma: Minha querida, a corrupção ela não... Por isso que não é faxina, viu, Patrícia? Você não acaba com a corrupção de uma vez por todas. Você torna ela cada vez mais difícil.
Patrícia: É possível ter um governo equilibrado, um governo estável, tendo a base aliada que tem no Congresso? A minha pergunta é a seguinte: a senhora acha que a senhora pode ficar refém dos aliados?
Dilma: Mas eu não acho, Patrícia, que eu sou refém.
Patrícia: Nem que pode ficar?
Dilma: Nem acho. Tem de ter muito cuidado no Brasil para a gente não demonizar a política. Nós temos uma discussão de alto nível com a base, com a nossa base, e nós vamos...
Patrícia: E como que a senhora controla esse toma lá da cá, digamos assim, cada vez mais sem cerimônia das bancadas? Como é que a senhora faz esse controle?
Dilma: Você me dá um exemplo do "da cá" que eu te explico o "toma lá". Estou brincando contigo. Vou te explicar. Eu não dei nada a ninguém que eu não quisesse. Nós montamos um governo de composição. Caso ele não seja um governo de composição, nós não conseguimos governar. A minha base aliada, ela é composta de pessoas de bem. Ela não é composta, não é possível que a gente chegue e diga o seguinte: “Olha, todos os políticos são pessoas ruins”. Não é possível isso no Brasil. Vou tomar uma água.
Intervalo para um copo d'água. É rápido. Depois de falar sobre corrupção, a demissão de três ministros, certamente os piores momentos que enfrentou até aqui, pergunto sobre os acertos.
Patrícia: Qual que a senhora acha que foi, nesses oito meses, o seu maior acerto?
Dilma: Nesses oito meses? Deixa eu pensar. Por que eu estou pensando? Porque eu não posso te dar várias. Porque eu acho que algumas coisas eu acertei bastante. Eu vou falar, eu acho que foi muito acertado, logo de início, ter entregue os remédios de graça. Sabe por que eu estou falando isso? Porque eu acho que a pessoa que não tem dinheiro para comprar um remédio que precisa, acho que é um drama humano violento. Aqui nessa mesa, nós decidimos que a gente ia garantir e assegurar para todas as pessoas do Brasil que sofrem de diabetes e pressão alta, que a gente ia assegurar o acesso ao medicamento de graça. Porque nós somos o único país que faz isso nessa proporção. Por isso que eu tenho orgulho disso. Podia dar uma segunda?
Patrícia: Pode, vou deixar a senhora, já que eu roubei o seu tempo lá no Palácio da Alvorada, a senhora tem crédito comigo. Pode dar a segunda.
Dilma: Olha, Patrícia, eu fico muito orgulhosa de uma outra coisa. É outra coisa que não é assim grande, mas para mim é importante. É importante reduzir imposto. Então, eu gostei de fazer isso. Para quem? Para o super simples e para o MEI.
Em abril, a presidente reduziu impostos pagos pelos microempreendedores individuais, chamados MEI. E em agosto, propôs a diminuição dos impostos das pequenas empresas.
Dilma: Então eu acho que são as duas coisas que eu mais me orgulho, entre outras. Se você deixar, eu penso em mais umas dez. Nós tiramos 40 milhões de pessoas da pobreza. Essas pessoas são hoje da classe média. O meu maior compromisso é garantir para esses 40 milhões, mais os outros que já usavam, garantir educação pública de qualidade, saúde de qualidade e segurança pública de qualidade.
Já que a presidente tinha acabado de falar em redução de impostos, em seguida, pergunto sobre o novo debate nos meios políticos: a possível volta da CPMF, o chamado imposto sobre o cheque. A presidente logo esclarece:
Dilma: Eu sou contra a CPMF, hein.
Patrícia: A senhora acha que a gente precisa de um imposto, de mais um imposto, para ter um atendimento de saúde melhor?
Dilma: Sabe por que a população é contra a CPMF? Porque a CPMF foi feita para ser uma coisa e virou outra. Acho que a CPMF foi um engodo nesse sentido de usar o dinheiro da saúde e não para saúde.
Patrícia: Está falando que foi desviado?
Dilma: Foi, foi. O dinheiro não foi usado onde devia. Nós, na saúde pública do país, gastamos 2,5 vezes menos do que na saúde privada. Um país desse tamanho, o maior país da América Latina, com a maior economia da América Latina, gasta 42% menos na saúde do que a Argentina.
Dilma: Para dar saúde de qualidade, nós vamos precisar de dinheiro, sim. Não tem jeito, tem de tirar de algum lugar. Agora, o Brasil precisará aumentar o seu gasto com saúde. Inexoravelmente.
Patrícia: Isso seria quando?
Dilma: O mais rápido possível.
Patrícia: Outra polêmica recente: houve interferência da presidente na decisão do Banco Central de reduzir a taxa básica dos juros em 0,5%.
Patrícia: A senhora não interferiu, nem de leve, nesse caso?
Dilma: Não, nós não fazemos isso. Nós estávamos dizendo naquela oportunidade é que a crise econômica, quando se aprofundou ali por agosto, ela criou uma nova conjuntura internacional. É esta conjuntura internacional que cria a diferença e não nós interferindo no Banco Central.
Patrícia: E a crise econômica mundial? Que impacto a senhora acha que isso vai ter no Brasil nos próximos meses?
Dilma: Nós temos um mercado interno crescente e vamos combater essa crise crescendo.
Patrícia: Que a indústria nacional vem freando, dando uma estagnada.
Dilma: Pois é, mas veja, a indústria deu uma diminuída em relação ao ano passado, que nós crescemos 7,5. Nós estamos esperando esse ano crescer em torno de 4. Nós, até julho, nós geramos 1,5 milhão de empregos. Se fosse nos EUA ou na Zona do Euro, qualquer país da Zona do Euro, estariam soltando foguete.
E como estamos na semana da notícia de que a inflação deu um pulo de 0,16%, em julho, para 0,37% em agosto, pergunto se esse aumento preocupa.
Dilma: A inflação é algo que sempre tem de nos preocupar, sabe, Patricia? Você sempre tem de ter um olho no crescimento e o outro olho na inflação.
Já chegando ao fim da entrevista, a presidente não parece tão indócil, como disse estar no Palácio da Alvorada. Então, decido partir para a última pergunta.
Patrícia: A senhora acha que o Brasil vai estar preparado, vai estar pronto para a Copa do Mundo de 2014?
Dilma: Ah, tenho absoluta certeza.
Patrícia: O que faz a senhora acreditar nisso?
Dilma: Por quê? Porque nós vamos ter nove estádios ficando prontos até dezembro de 12. No máximo início de 13. Tempo de sobra para Copa.
Patrícia: Aeroportos?
Dilma: Aeroportos, nós estamos com três aeroportos em licitação, já totalmente formatada a engenharia. Vamos fazer essas licitações no final desse ano.
Patrícia: A sensação que dá para o cidadão brasileiro é que o processo tem sido lento.
Dilma: Mas eu posso te mostrar os estádios, por exemplo. Eu olhei recentemente, fizemos um balanço aqui, com o ministro Orlando Silva, ele trouxe todos estados e nós monitoramos, nós monitoramos com informações online, fotos e tudo.
Patrícia: Presidente, muito obrigada por essa conversa, por mostrar um pouco da sua intimidade para gente, por ter me recebido aqui em Brasília. Agora, chega de papo, né?
Dilma: Agora, eu vou trabalhar.
Patrícia: Vai trabalhar, presidente. Muito prazer em conhecê-la pessoalmente. Bom trabalho.
Dilma: Obrigado.
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