Não apoiar as pré-candidaturas de Raul Pont nem de Adão Villaverde e abrir mão da cabeça de chapa em favor de Manuela D’Ávila, do PCdoB, como quer o governador Tarso Genro, ou aliar-se com o PSD, recém-criado e sem definição ideológica, como admite o presidente municipal do PT, Adeli Sell que, aliás, retirou sua pré-candidatura, eis a questão colocada para o partido que já governou Porto Alegre por 16 anos seguidos e já exerceu controle hegemônico na política municipal.
Há, na verdade, uma terceira possibilidade, semelhante à primeira, com a diferença de que o PT ofereceria apoio ao atual prefeito José Fortunati, do PDT. Opção defendida por setores mais próximos da presidente Dilma Rousseff, mas com poucos simpatizantes entre os petistas de Porto Alegre.
Com vocação hegemonista forjada nas lutas pela afirmação da sigla durante os anos imediatamente pós-ditadura, quando o partido foi alvo de acusações partidas tanto da direita quando da esquerda tradicional, as “bases” petistas, ou seja, os militantes não detentores de cargos de direção partidária ou de governo, insistem na tese do lançamento de candidatura própria, mesmo que sem o apoio e coligação com outros partidos importantes.
Tarso se preocupa com a governabilidade e procura costurar uma aliança que garanta, ao mesmo tempo, a) uma base de apoio folgada na Assembleia Legislativa, com a presença e o voto do PCdoB (1 deputado) e do PSB (3 deputados) nos projetos e assuntos de interesse do governo do estado e sem hostilizar o PDT (6 deputados), e b) também o pagamento de uma dívida de apoio firmada na composição de sua chapa, quando o apoio destes dois partidos foi crucial para romper o isolamento político em que se encontravam o PT e sua candidatura.
Dilma, com a mesma preocupação de governabilidade, só que no plano federal, tem consciência de que o apoio ao PDT gaúcho é importante tanto para manter o equilíbrio na distribuição de cargos no seu governo quanto para conter o apetite pedetista no plano federal. Com peso restrito apenas ao Rio Grande do Sul e ao Rio de Janeiro, o PDT se contenta apenas com a reeleição em Porto Alegre, o apoio para a eleição de um ou outro prefeito no interior fluminense e, claro, a manutenção de Carlos Alberto Lupi no Ministério do Trabalho.
Tarso prefere o apoio à Manuela D’Ávila também porque seu partido é pouco estruturado no interior do Rio Grande do Sul, bem como em todo o Brasil, e, assim, ofereceria pouco perigo de acumular, a curto e médio prazo, força suficiente para alçar vôo próprio, fazendo mais prefeituras e arvorando-se a aventura de uma candidatura própria ao Palácio Piratini. Mesmo aliado ao PSB, a ameaça que poderiam apresentar ao PT e à reeleição de Tarso Genro seria frágil e sua possibilidade remota.
Além das alianças à direita, firmadas pela administração José Fogaça (PMDB) e mantidas pela administração José Fortunati, que a sucedeu, o apoio a Fortunati implicaria na possibilidade de reascender a força do PDT em Porto Alegre e, daí, para outras áreas do Rio Grande do Sul. Fortunati e seu partido poderiam, nos próximos quatro anos, acumular força suficiente para ousar enfrentar o PT e Tarso na reeleição ao Piratini.
A contabilidade indicaria que é melhor correr o risco de manter Manuela, o PCdoB e o PSB por oito anos à frente da Prefeitura de Porto Alegre do que dar asas a Fortunati e ao PDT durante os próximos quatro anos.
A pesquisa Kepeler/Sul21 sobre a avaliação da administração municipal de Porto Alegre e as intenções de voto em 2012, ainda que realizada a exato um ano do pleito, indicou que o PT teria hoje pouca chance de vitória, apresentando candidatura própria. Fortunati, mesmo com uma administração razoavelmente bem avaliada, não empolga os eleitores, que revelam almejar mudanças ainda que não radicais durante a próxima administração. Manuela, que aparece na pesquisa em empate técnico com Fortunati, mas um pouco à sua frente, já se revelou boa de partida, mas ruim de chegada. A falta de estrutura partidária impediu sua ida ao segundo turno do pleito em 2008 e constituirá grande empecilho para sua vitória em 2012.
A mesma pesquisa revelou que os candidatos petistas com maiores chances eleitorais em Porto Alegre são aqueles que já descartaram a possibilidade de concorrer. Maria do Rosário prefere se manter no corpo de ministros de Dilma Rousseff, almejando, quiçá, um ministério mais robusto na próxima reforma ministerial a se realizar no início do ano. Henrique Fontana já afirmou que priorizará a atenção ao filho em recuperação de um acidente automobilístico e à família, numa atitude de desprendimento e afeto.
Raul Pont e Adão Villaverde, deputados estaduais, o primeiro ex-prefeito e ex-vice-prefeito de Porto Alegre e o segundo atual presidente da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, aparecem com baixos índices de intenção de voto. Pont, por sua trajetória no município, é mais conhecido que Villaverde, mas é também o mais rejeitado dentre todos os pré-candidatos testados. Villaverde, que nunca disputou cargo municipal em Porto Alegre, é pouco rejeitado, mas é também pouco conhecido.
Se não quiser se isolar e correr o risco de ficar fora da Prefeitura de Porto Alegre por quatro ou, talvez, por oito anos, o PT se vê diante da possibilidade de se aliar a um dos dois candidatos melhor posicionados na pesquisa Kepeler/Sul21 e em todas as demais pesquisas até aqui realizadas. Fica claro que se o PT ceder a cabeça de chapa e se aliar a um(a) candidato(a), qualquer que seja ele(a), será este candidato(a) o(a) que terá maior chance de vitória. O PT assumiria, assim, o papel de fiel da balança, o que lhe daria condições de exigir contrapartidas, sejam elas no plano de governo sem elas na composição das secretarias e órgãos de governo.
Frente a este quadro complexo, algumas perguntas ficam pendentes de resposta. Raul Pont e/ou Adão Villaverde teriam disposição de aceitar uma candidatura a vice-prefeito? Teriam as bases petistas flexibilidade para deixar de lado a postura hegemonista, que histórica e legitimamente têm assumido em Porto Alegre? Teriam as lideranças petistas força política suficiente para convencer o conjunto do partido a apoiar Manuela D’Ávila ou José Fortunati? Seria, por fim, mais aconselhável, ainda que aparentemente menos prudente, afrontar as evidências das pesquisas e as avaliações dos dirigentes e reafirmar, mais uma vez, a presença e o peso petista em Porto Alegre para tentar virar a mesa e ganhar a eleição?
Sair do impasse em que o PT se encontra hoje é o grande desafio. Uma decisão precipitada ou incorreta poderá levar o partido ao brete do matadouro político, perdendo ainda mais força em Porto Alegre e diminuindo ainda mais sua presença no município.
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