7 de setembro de 2011

Jango torna-se presidente no Dia da Independência

Militares, que perderam a batalha contra sua posse, ganharam a guerra contra ele em 1964

Jango é empossado presidente da República l Foto: Acervo Fotográfico do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

Nubia Silveira

No Dia da Independência, em 1961, encerrava-se mais um episódio crítico da história brasileira. O vice-presidente João Goulart, trabalhista, herdeiro político de Getúlio Vargas, tomava posse, em 7 de setembro, na Presidência da República. Já haviam se passado 13 dias desde que Jânio Quadros renunciara ao cargo, alegando estar sendo pressionado por “forças terríveis”. A posse de Jango representava uma vitória parcial do Movimento da Legalidade, iniciado no Rio Grande do Sul, na madrugada de 26 de agosto, pelo governado Leonel Brizola, correligionário e cunhado do vice-presidente, que voltava de uma viagem oficial à China, em busca de novos mercados para o Brasil, a mando do presidente Jânio. João Goulart acabou aceitando a implantação no Brasil do sistema parlamentarista. Segundo ele revelou mais tarde, esta foi a forma que encontrou para evitar o derramamento de sangue no país.

Jango chega a Brasília para a posse l Foto: Acervo Fotográfico do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

A posse representou também uma vitória parcial dos ministros militares – Odílio Denys (Guerra), Sílvio Heck (Marinha) e Gabriel Grun Moss (Aeronáutica) — que se recusavam a aceitar a posse do vice-presidente e tinham mandado calar Brizola. A ordem era bombardear o Palácio Piratini. A batalha dos ministros começou a ser perdida quando os suboficiais da FAB se revoltaram e impediram os caças de levantar voo e o comandante do III Exército, general Machado Lopes, se recusou a atender as ordens de Denys, apoiando a Legalidade. A guerra, eles venceram três anos depois, em 1964, ao depor João Goulart, a quem chamavam de comunista.

Ungido pela vontade popular

Jango recebe a faixa presidencial de Ranieri Mazzilli l Foto: Instituto João Goulart

Há exatos 50 anos, os gaúchos foram os únicos a realizar um desfile militar, em homenagem à Independência. Brizola e o general Machado Lopes estiveram ali, lado a lado. Enquanto isso, em Brasília, na cerimônia de posse no Senado, Jango discursava, afirmando que se inclinava mais a unir do que dividir. Ele lembrou: “Subo ao poder ungido pela vontade popular, que me elegeu duas vezes vice-presidente da República, e que, agora, em impressionante manifestação de respeito pela legalidade e pela defesa das liberdades públicas uniu-se, através de todas as suas forças, para impedir que a sua decisão soberana fosse desrespeitada. Considero-me guardião dessa unidade nacional e a mim cabe o dever de defendê-la, no patriótico objetivo de defendê-la para a realização dos altos e gloriosos destinos da Pátria Brasileira”.
 
Jango tomou posse sem ter a seu lado, a mulher, Maria Tereza, e os filhos, João Vicente e Denise. Eles permaneciam na Europa, para onde tinham ido para se encontrar com o vice-presidente, após a viagem ao Oriente. Voltaram apenas depois da posse.

Plebiscito derruba parlamentarismo

O presidente, que como ministro do Trabalho de Vargas aumentara em 100% o valor do salário mínimo, voltou a governar sob o sistema presidencialista, em 1963, depois de um plebiscito, realizado em janeiro daquele ano, em que os brasileiros se declararam contra o parlamentarismo. As forças conservadoras, que já tinham se insurgido contra ele no governo de Getúlio Vargas, trabalhavam por sua derrubada. Não aceitavam as suas propostas de reformas de base. O presidente defendia as reformas agrária, política, fiscal e educacional.

Jango sofreu pressão dos conservadores desde que assumiu o Ministério do Trabalho no governo Vargas l Foto: gazetamaringa.com.br

No dia 13 de março de 1964, em um comício realizado em frente à Central do Brasil, no Rio de Janeiro, Goulart assinou decretos em que determinava a nacionalização das refinarias de petróleo e a desapropriação de terras às margens de ferrovias, rodovias e zonas de irrigação de açudes públicos para a reforma agrária.

Dezoito dias depois, os militares apeavam João Goulart do poder. Ele preferiu o exílio a resistir ao golpe. Seguia seu princípio de evitar derramamento de sangue entre os brasileiros. Viveu no exílio até a sua morte, na Argentina, em 6 de dezembro de 1976. Foi enterrado em São Borja, onde nascera em 1º de março de 1919.

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