Samir Oliveira
A presidenta Dilma Rousseff (PT) deve anunciar nesta quinta-feira
(24) o que fará com o texto do novo Código Florestal que está em sua
mesa desde o dia 25 de abril, antecipando em um dia a decisão que
precisa ocorrer até a sexta-feira (25). Os brasileiros saberão, enfim,
para qual lado penderá a caneta presidencial.
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Dilma tem três caminhos a seguir: ou veta todo o texto, ou veta
apenas alguns artigos, ou sanciona a proposta com a redação integral
aprovada pela Câmara dos Deputados. A cautela e a moderação que guiam
todas as atitudes da presidente sugerem que o Código Florestal será
parcialmente vetado. Mas é impossível prever com exatidão o que Dilma
fará e o quão suscetível ela está aos anseios de milhares de brasileiros
que se somam à campanha “Veta, Dilma!” e exigem o fim de todas as
mudanças determinadas pelos parlamentares, numa negociação que perdurava
há 13 anos no Congresso Nacional.
Não é do estilo da presidente tomar medidas drásticas, como seria o
veto integral a um polêmico texto vindo do Legislativo. A decisão
poderia colocar o Palácio do Planalto em pé de guerra com o Congresso –
uma briga que Dilma parece não estar disposta a comprar.
Ao mesmo tempo, uma sanção total frustraria não só uma expressiva
parcela da opinião pública mobilizada contra a flexibilização da
legislação ambiental, como desagradaria também a alguns setores da base
aliada do Palácio do Planalto no Parlamento. A começar pelo PT, partido
da presidente, que rejeitou as últimas alterações feitas pela Câmara.
Um veto parcial parece ser a saída que mais agrada Dilma e já é a
alternativa defendida por vários ministros – que, certamente, não
opinariam publicamente sobre um tema tão delciado sem o aval da chefe,
conhecida por se preocupar bastante com as entrevistas de seus
auxiliares.
Numa das poucas declarações que vazaram à imprensa sobre o tema,
Dilma dá a entender que apostará na mediação ao se posicionar sobre o
Código Florestal. A fala é referente a uma reunião da presidente com
movimentos sociais no dia 26 de janeiro, em Porto Alegre, por ocasião da
edição temática do Fórum Social Mundial.
“Temos de resolver todas as contradições do Código Florestal. Passei
por um processo duro de negociação quando estava na Câmara. Acredito que
vamos ter de construir uma solução consensual. Não será, adianto pra
vocês, o sonhos dos ruralistas. Não será também um código ambiental
perfeito”, disse Dilma em resposta aos questionamentos feitos pelo líder
do MST, João Pedro Stédile.
Em recente conversa com o Sul21,
o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas (PT), garantiu que a
presidente irá vetar o novo Código Florestal. “A Dilma vai vetar. Se no
todo ou em parte, essa é a discussão”, adiantou.
O titular da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (PMDB), entende que é
necessário eliminar os artigos que tratam da recomposição de áreas de
preservação permanente (APP) e igualam as medidas para pequenos e
grandes produtores. Pelo texto, os imóveis rurais com áreas consolidadas
em APPs ao longo de cursos d’água com largura de até 10 metros devem
recompor as margens em 15 metros. A medida é criticada por ignorar as
especificidades de cada propriedade, colocando num mesmo patamar áreas
com 10 hectares e outras com 700 hectares, por exemplo.
Outro ponto polêmico que deve ser vetado pela presidente é a anistia
aos desmatadores. O termo provoca a ira dos ruralistas, defensores da
proposta, que negam a complacência da nova lei com o desmatamento. O
fato é que o texto suspende as multas por infrações ambientais cometidas
até 22 de julho de 2008 enquanto o proprietário que aderiu ao Programa
de Regularização Ambiental estiver cumprindo o termo de compromisso
ajustado.
A Agência Câmara disponibiliza um link
com os principais aspectos do Código Florestal que foram alterados e/ou
aprovados após a última votação na Câmara dos Deputados.
“O código será judicializado”, projeta diretor da Fundação SOS Mata Atlântica
O diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario
Mantovani, acredita que, independentemente da decisão que a presidente
Dilma Rousseff tomar, o novo Código Florestal será contestado na
Justiça. “Os ruralistas não vão levar essa. Não se pode derrubar a
função social da terra. O código vai ser judicializado”, projeta.
Mantovani tem participado dos protestos pelo veto total realizados em
diversas regiões do país e com forte presença nas redes sociais. Com
uma postura bastante cética, ele acredita que a presidente não irá
contrariar a bancada ruralista e vetar totalmente o texto. “O governo
ainda cede às chantagens dos ruralistas. Não adianta vetar dez ou quinze
artigos. Há tantas armadilhas no meio do texto que uma coisa anularia a
outra”, comenta.
O ambientalista diz que a Câmara dos Deputados não votou um texto
ambiental, mas, sim, “se associou ao crime”. “O que houve não foi uma
discussão sobre um código florestal. Foi uma associação para o crime
feita com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA)”, disparou, em
referência à corporação que defende os interesses do agronegócio,
presidida pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO).
O deputado federal Moreira Mendes (PSD-RO), presidente da Frente
Parlamentar da Agropecuária, não acredita que a presidente Dilma
Rousseff irá vetar totalmente o novo Código Florestal. “Seria um tapa na
cara do produtor brasileiro. Seria uma escolha clara do governo, que
tomaria um lado contrário à produção”, entende o parlamentar.
Moreira Mendes reconhece que é possível que Dilma vete alguns artigos
do texto, mas avisa: “Ela tem muito poder, mas não todos. Podemos
derrubar os vetos que ela eventualmente vá fazer”, alerta.
O deputado rejeita a afirmação de que a nova norma promove uma
anistia aos desmatadores. “É uma mentira deslavada. Pessoas movidas por
odiosa má fé colocam como anistia um decreto que permite a conversão de
qualquer multa ambiental em pagamento de serviços ambientais”, observa.
Moreira Mendes não hesita em fazer pouco caso da campanha “Veta,
Dilma!”. Para ele, trata-se de uma mobilização orquestrada por poucos
ambientalistas. “São maus brasileiros que conseguem envolver e
sensibilizar milhões de pessoas que não conhecem o assunto, não têm a
menor noção da besteira que estão fazendo, não conhecem o Brasil rural
que produz alimentos”, dispara o deputado.
Ele também minimiza a ampla adesão social que a campanha vem
recebendo, com o apoio de diversos artistas e personalidades de fora do
meio político. “Falar de meio ambiente é uma coisa muito simpática, todo
mundo gosta. Artistas globais são bons para fazer onda, mas não sabem
do que estão falando”, critica.
Para Moreira Mendes, os ativistas pelo veto total ao Código Florestal estão exercendo o direito “de espernear”.
“O governo precisa agir com coragem política”, cobra Ivan Valente
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) considera que a presidente
Dilma Rousseff precisa estar disposta a enfrentar a bancada ruralista no
Congresso Nacional e vetar totalmente o novo Código Florestal. “O
governo tem que agir com coragem política. Só saberemos se há esta
disposição depois do anúncio”, comenta.
Ele cita o exemplo da aprovação da PEC do Trabalho Escravo, em que os
ruralistas foram amplamente derrotados, para afirmar que é possível
fazer frente a essas forças conservadoras. “É preciso fazer o
enfrentamento a essa bancada que se tornou suprapartidária”, cobra,
acrescentando que, além dos ruralistas, Dilma terá que se indispor com
os setores conservadores de sua base aliada.
“A presidente deveria fazer um veto total e editar uma medida
provisória com uma legislação mais adequada às necessidades de um novo
Código Florestal”, defende Ivan Valente.
O deputado avalia que, se optar por vetos parciais, Dilma deveria
pelo menos eliminar a anistia aos desmatadores e a flexibilização da
fiscalização ambiental – em referência aos dispositivos que retiram
poderes do Ibama e do Conselho Nacional do Meio Ambiente e transferem
aos estados as prerrogativas fiscalizatórias.
Kátia Abreu propõe outra campanha: “Reflita, Dilma!”
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) é uma das vozes mais influentes do
agronegócio brasileiro. Ela preside a Confederação Nacional da
Agricultura (CNA) e defende uma nova campanha para sensibilizar a
presidente Dilma Rousseff. Em vez do “Veta, Dilma”, a senadora prega o
“Reflita, Dilma!”.
Em entrevista à rádio Bandeirantes, Kátia Abreu admite a
possibilidade de um veto parcial ao Código Florestal e diz que a recusa
total do texto “seria uma afronta ao Congresso Nacional”.
A senadora ruralista critica a restrição de atividades rurais bem
próximas a margens de rios. “Todas as civilizações do mundo têm
procurado, inteligentemente, as margens dos rios para produzir. As
terras são mais férteis”, comenta.
Kátia Abreu acredita que intensificar a legislação ambiental pode
resultar na diminuição da produção de alimentos e, consequentemente, no
aumento do custo dos produtos para as famílias. “Produzimos em 27,7% do
território brasileiro. Uma redução dessa área plantada em 14% para
incorporar apenas 3,8% a mais de florestas é justa para o povo
brasileiro?”, questiona.
A senadora também é contra o reflorestamento de áreas desmatadas que
já se encontrem sob utilização dos produtores. “Há um consenso nacional
entre os produtores que a preservação de nascentes e matas ciliares é
muito importante. A China está reflorestando todas as matas ciliares,
com exceção das áreas de produção de alimentos”, compara.
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