Igor Natusch
Era o jogo que, supostamente, o mundo inteiro queria assistir. De um lado, o Barcelona, o maior time do mundo na atualidade, uma superequipe capaz de ganhar ao natural de gigantes como o Real Madrid e que há mais de dois anos termina todos os seus jogos com mais posse de bola que o adversário. Do outro, o Santos, campeão da América, dotado de craques como Neymar e Ganso, supostamente o time mais qualificado para desafiar o Barça em uma final de Mundial de Clubes. Quem esperava ver um espetáculo inédito e surpreendente, porém, acabou vendo mais ou menos o mesmo show de sempre – embora, é claro, muito longe de ser ruim. Jogando fácil e sem tomar conhecimento do Santos, o Barcelona aplicou categórios 4×0 e conquistou, pela segunda vez, o título máximo do futebol mundial.
O Santos entrou em campo com a clara proposta de conter o Barcelona. Preparou um 4-3-1-2 com uma primeira linha bastante funda, com dois laterais transformados praticamente em zagueiros, e três volantes bastante fincados, seguidamente auxiliados pelo próprio Ganso. Fechadinho, o Santos aguardava o Barcelona, se propunha a assistir o adversário trocar passes enquanto aguardava a brecha para acionar Neymar em um contra-ataque agudo. Ou seja, a ideia do Santos era a mesma que anima a maior parte dos adversários do Barça, com graus variados de sucesso: abrir mão da posse de bola, deixar que o adversário propusesse o jogo, protegendo a própria cidadela em uma verdadeira guerra de trincheiras.
A resistência santista durou menos de 20 minutos. E, do jeito que o Santos se propôs a jogar, não poderia mesmo ter sido muito diferente. Ao contrário do Internacional, que superou com brilhantismo o Barcelona em 2006, o Santos não carrega a marcação disciplinada e incansável em seu DNA. Suas linhas eram tortas, o primeiro combate era pouco efetivo, e o Barcelona chegava com facilidade nas cercanias da área de Rafael. Quando tinha a bola, o Santos se enrolava nas próprias pernas: sempre marcado sob intensa pressão pelo adversário, o Peixe oscilava entre o chutão e a tentativa de trocar passes, fracassando quase sempre em ambas as iniciativas.
Enquanto isso, o futebol do Barcelona fluía sem barreiras, como a constante e poderosa onda de um tsunami futebolístico. O time espanhol nunca, em momento algum do jogo, teve menos de 70% da posse de bola. Substituído por dores lombares, o santista Danilo trazia no rosto uma expressão aparvalhada, de alguém que tinha acabado de escapar de um fenômeno natural – ou talvez de um jovem recruta, soldado que escapava vivo de Stalingrado, Paschendaele ou Waterloo. A bola, por um estranho tipo de magia, estava sempre nos pés no Barcelona. Sempre. E ninguém poderá se dizer surpreendido com o gol de Messi, abrindo o placar por cobertura aos 18mins após receber a bola na frente de Rafael. Era algo natural, dadas as circunstâncias do jogo. Eis a dura verdade, que ficou muito clara desde os primeiros instantes e que se cristalizou com o gol do argentino: o Santos não era páreo para o Barcelona. Simples assim.
A partir daí, o restante do primeiro tempo virou questão de ir contando os gols e lances de perigo do time espanhol. Fez mais dois – com Xavi e Fàbregas, o último depois de uma verdadeira blitzkrieg dentro da pequena área santista – e poderia facilmente ter sido muito mais. Situação que, sejamos justos, mudou consideravelmente no começo do segundo tempo, quando o Santos pareceu perceber que, se continuasse assistindo o jogo, seria vítima passiva de uma goleada histórica. O Barcelona continuou chegando com muito perigo o tempo todo, mas o time brasileiro adiantou a marcação, conseguiu acionar os até ali sumidos Neymar e Borges, chegou a obrigar Valdés a algumas boas defesas. Em suma: quando o Santos foi o Santos que ganhou a América, conseguiu enfrentar o Barcelona de forma muito melhor. Não chegou a ser uma reação, mesmo porque não resultou em gol algum, mas ao menos emprestou um pouco mais de dignidade ao confronto.
Quem fez mais um gol foi o Barcelona. Pela segunda vez, Messi ficou na cara de Rafael, desta vez após passe de Daniel Alves; pela segunda vez marcou o gol com segura e confortável elegância. O placar final de 4×0 igualou o Santos às duas outras maiores goleadas do modelo atual de Mundial de Clubes, sofridas por América-MEX e Al Sadd, do Qatar – todas elas com um denominador comum: o Barcelona, verdugo impiedoso das três equipes. Nada muito surpreendente: diante do Barcelona de hoje em dia, a tendência natural é ser derrotado. Uma rotina desagradável para os adversários do Barça, mas um espetáculo sempre fascinante para os apreciadores do futebol. E de jogar futebol – hoje ficou provado, uma vez mais – o Barcelona entende. Oh, se entende.
Santos 0×4 Barcelona
Santos – Rafael; Bruno Rodrigo, Edu Dracena, Durval e Léo; Danilo (Elano), Henrique, Arouca e Ganso (Ibson); Borges (Alan Kardec) e Neymar. Técnico: Muricy Ramalho.
Barcelona – Valdés; Puyol (Fontàs), Piqué (Mascherano) e Abidal; Busquets, Xavi, Iniesta e Fàbregas; Daniel Alves, Messi e Thiago (Pedro). Técnico: Pepe Guardiola.
Gols: Messi, aos 16min, Xavi, aos 23min, e Fàbregas, aos 44min do 1º tempo; Messi, aos 36min do 2º tempo.
Cartões Amarelos: Edu Dracena e Ganso (Santos); Piqué e Mascherano (Barcelona).
Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão)
Local: Estádio Internacional de Yokohama, Yokohama (Japão
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