por Pablo Vilarnovo
Recente vídeo lançado por artistas e intelectuais colocou lenha na fogueira da Usina de Belo Monte. Os motivos da discordância dos artistas sobre a construção da usina são os mesmos apresentados há anos: desmatamento da Amazônia, realocação de índios, impacto ambiental etc. As alternativas apresentadas são as mesmas de sempre: energia eólica e energia solar.
Não estou aqui para advogar a favor ou contra a usina de Belo Monte. Meu problema é com artistas, pessoas públicas, que se utilizam de sua fama para dizer algo a respeito do que pouco conhecem. Não sou especialista em energia elétrica e energia renovável, mas, no mundo de hoje, onde a informação está muito perto para quem se interessa, alguns argumentos utilizados soam no mínimo inocentes. Impacto ambiental, está claro que vai acontecer, apesar de alguns, digamos, enganos apresentados no vídeo. Primeiro, da área alagada, 2/3 representam o atual curso do rio ou de área já desmatada. Segundo, não, meus caros, não confundam o rio Xingu com o Parque do Xingu.
Apesar de tudo, apesar dos enganos, tudo é passível de debate. Meu problema é com as alternativas que são propostas. Energia solar e a energia eólica seriam a salvação da humanidade. Isso pode até acontecer daqui a 100 anos. Hoje não é bem assim.
Em abril, em artigo publicado no jornal O Globo, o Procurador da República do Estado do Pará, Sr. Felício Pontes Jr., afirmou que os custos de construção de usinas solares estão se aproximando dos custos de construção de usinas hidroelétricas. Ele comparou um caso americano, da usina de energia solar de Blythe no estado da Califórnia, com a usina de Belo Monte. Colocando o conhecido “custo Brasil” de lado, o Procurador chegou à conclusão de que os custos de Blythe e de Belo Monte são equivalentes. Não é exatamente assim. A usina de Blythe terá a capacidade de gerar no máximo 900 MW, enquanto Belo Monte, na pior das hipóteses, gerará 4.000 MW. O Procurador afirma que essa é a capacidade “otimista” de geração de Belo Monte. Está equivocado. A capacidade de geração de Belo Monte em seu pico (época das cheias) está estimada em 11 mil MW. O valor da usina de Blythe está estimado em 11,1 bilhões de reais (6 bilhões de dólares), e não em 9,6 bilhões de reais. Para gerar a mesma capacidade de energia de Belo Monte, seriam necessárias quase cinco usinas iguais a Blythe.
Outro argumento utilizado é o da quantidade de terreno que irá ser alagado por Belo Monte, o equivalente a 516 Km² — grande parte pertencente ao rio Xingu. A construção de cinco usinas iguais a Blythe necessitaria de 150 Km² de área plana, mas teríamos que levar em conta que os custos em linhas de transmissão (e manutenção das mesas) seriam multiplicados, e o impacto ambiental dessa multiplicação de linhas de transmissão. Boa sorte para quem tentar encontrar 150 km² de área plana no Brasil, com grande incidência de sol, sem ter os mesmíssimos problemas levantados.
O Procurador também afirma que as usinas solares irão fornecer os MW em “energia firme”. Suponho que ele queira dizer que não haverá dias chuvosos ou nublados. Sequer noite.
Com a energia eólica o problema é o mesmo: alto custo e necessidade de grande área para implantação. O projeto da fazenda de vento de The Roscoe no Texas utiliza uma área de 398 Km² para gerar o equivalente a 790 MW. Para chegar aos 4.000 MW de Belo Monte, seriam necessárias cinco fazendas desse tipo, totalizando 1.990 Km² de área. O mesmo que quase a metade da cidade do Rio de Janeiro (4.781 Km²).
Existe outro aspecto a ser considerado: pelo alto custo de MW/h dessas usinas, a produção de energia precisa ser intensamente subsidiada pelo governo. O caso espanhol é muito claro. A Espanha embarcou de cabeça na onda das usinas eólicas e hoje acumula um passivo enorme, aumento do preço da energia para o consumidor, além dos empregos prometidos na “indústria verde” que nunca se tornaram realidade. Já ficou bem claro para a Espanha — e de quebra Portugal, que embarcou nas usinas espanholas — que o custo das eólicas é altíssimo. Os fartos subsídios deverão ser extintos nos próximos meses.
De maneira nenhuma minha intenção é fechar a questão sobre a construção de Belo Monte. Quero apenas provar que o debate deve existir, sim, mas com honestidade. A construção da usina terá impacto ambiental, da mesma forma que a construção de usinas eólicas e solares. Da mesma forma que dinheiro do BNDES será usado em Belo Monte, tem que ser muito ingênuo para acreditar que o mesmo não iria acontecer com eólicas e solares — pior: devido ao maior custo de geração dessas usinas, seriam necessários grandes subsídios (que iriam desviar recursos do Tesouro Nacional) para a comercialização da energia gerada. E, num país em que o povo está farto de pagar impostos e não ver o governo devolvê-los em serviços de qualidade, quero ver alguém dizer para as pessoas que dinheiro que podia estar sendo aplicado em educação, saúde e segurança está sendo utilizado em um projeto tão degradante quanto e muito mais caro que a outra opção.
São essas as cartas que os que advogam por tais usinas devem colocar na mesa. Será que os artistas sequer pesquisaram sobre o que iriam dizer? Todos esses são dados públicos. Usinas solares e eólicas são ótimas no papel, mas são diferentes quando vistas de perto. No final das contas, não há soluções miraculosas; todas as alternativas possuem vantagens e desvantagens que deveriam ser debatidas sem misticismos.
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