13 de fevereiro de 2012

Do câncer do Lula ao exemplo perto de casa

Por Guilherme Zimmermann

No dia 29 de outubro de 2011, a assessoria do ex-presidente da república Luis Inácio Lula da Silva, informou que este fora diagnosticado com um câncer na laringe. A notícia causou alvoroço e comoção dentro e fora do país. Por decisão do próprio ex-presidente, buscou-se tratar a questão da doença de maneira a divulgá-la com transparência e acima de tudo, respeito e consideração à população. Inúmeros foram os pronunciamentos de autoridades nacionais e internacionais desejando a ele sucesso no tratamento e melhora imediata.
Nos portais de relacionamentos, redes sociais e por toda a internet diversas mensagens de apoio e carinho ao ex-presidente foram propagadas. Porém, nem tudo “foram rosas”. Não demorou e logo começaram a “pipocar nas redes” mensagens no sentido oposto, verdadeiras demonstrações de ódio e de ignorância, indo desde a exigência que Lula se tratasse na rede pública, através do Sistema Único de Saúde – SUS, até comemorações por ele estar doente. Gilberto Dimenstein, colunista da Folha de São Paulo, ao abordar o tema, classificou tais atos como “uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano”.
Após os primeiros estágios do tratamento do câncer, houve um retrocesso nos ataques ao ex-presidente Lula. Assim, acreditava que tais demonstrações carregadas de sentimentos negativos haviam sido deixadas para trás, superadas, talvez, pela consciência de que antes da figura pública e política existe o ser humano.
No entanto, tristemente, vejo que me equivoquei. De fato as agressões contra o ex-presidente Lula deixaram de ser destaque na internet e nas redes sociais. Mas isso não em razão das pessoas que alvejavam as críticas terem se solidarizado com o sofrimento alheio, mas sim, apenas pelo curso normal da vida, aonde outros assuntos mais recentes vão ganhando relevância.
Percebi isso em razão do acidente que meu pai, prefeito do Município de Novo Hamburgo, sofreu no dia 29 de janeiro do presente ano ao mergulhar no rio Tramandaí.     Como filho, cidadão hamburguense, cientista político e militante partidário, eu não estava preparado para o que aconteceria para além da fratura na sua coluna cervical.

O acidente da figura pública e política Tarcísio Zimmermann despertou “perto de casa” um fenômeno similar ao do câncer do Lula, guardadas, é claro, as devidas proporções. No dia do acidente eu mal conseguia atender todas as ligações e responder as mensagens de apoio, que desejavam melhoras, queriam notícias e informações a respeito do quadro clínico do meu pai.
Hoje, passada quase uma semana do ocorrido, ele se recupera no Hospital Regina da cirurgia que foi submetido a fim de estabilizar a fratura e promover, com mais segurança e rapidez, a sua recuperação. Contudo, aqui em Novo Hamburgo, estamos tendo que conviver com mensagens similares às disparadas contra o ex-presidente, exigindo do prefeito que realizasse seu tratamento no hospital municipal, via SUS. Além disso, disseminando inverdades a respeito das razões pelas quais o procedimento não foi realizado no hospital municipal, chegando ao ponto de afirmar o absurdo de que isso se deu em razão da altura do paciente.
Ainda que o Sistema Único de Saúde não oferte todas as condições de qualidade e conforto que gostaríamos, injusto seria ocupar uma vaga junto ao Hospital Municipal tirando, por exemplo, o espaço de alguém que dispõe exclusivamente do SUS. Meu pai, meu irmão e eu somos dependentes do plano de saúde que minha mãe dispõe através da empresa em que trabalha há quase 20 anos.
Fica aqui, acima de tudo, meu desabafo e a preocupação com a repercussão e o direcionamento que um assunto tão sério pode tomar. Pois, é preciso lembrar que antes da figura pública está a pessoa comum, feita de carne e osso. Alguém, assim como você e eu, que tem pessoas próximas, que tem uma companheira, filhos, amigos, sentimentos e emoções.
Felizmente, correu tudo bem e se colocarmos na “balança”, veremos que as mensagens de apoio, carinho e preocupação superam e muito as mensagens de cunho negativo, desrespeitoso e mesquinho. Estas apenas demonstram a “pequenez” de algumas pessoas, sua desinformação e amargura. Agradeço, de coração, a todos que manifestaram suas preocupações, mandaram mensagens de carinho, cuidado e de melhoras.

Guilherme Zimmermann é cientista político e graduando de Direito.

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