Samir Oliveira
Em assembleia geral nesta sexta-feira (2), o Cpers rejeitou as propostas de reajustes salariais do governo gaúcho e aprovou o estado de greve. O sindicato exige a retirada do projeto que tramita na Assembleia Legislativa e prevê 23,5% de aumento, além de discordar do calendário projetado pelo Palácio Piratini até 2014, que estabelece índices para se chegar a um salário mínimo de R$ 1.260.
A proposta de 23,5% de reajuste para este ano está calcada em três parcelas: 9,84% em maio, 6,08% em novembro e 6% em fevereiro. O Cpers rejeita a oferta porque avalia que não representa um ganho real, já que a primeira parcela representa a incorporação na folha de um abono que a categoria já recebia, a segunda parcela è referente à variação da inflação em 2011 e a terceira parcela incidirá somente em 2013.
Ancorado na posição do Ministério da Educação (MEC), que confirmou que o valor do piso este ano é R$ 1.451, o sindicato desaprovou o calendário pelo qual o governo do Estado projeta, até 2014, pagar um piso de R$ 1.260. “O governo achou que iria enganar a categoria apresentando um valor qualquer. Achavam que nunca enxergaríamos que, com essa proposta, o piso nunca estará nas nossas mãos”, criticou a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira.
A assembleia geral, realizada em frente ao Palácio Piratini, aprovou uma contraproposta da categoria para que, ainda neste ano, o piso seja de R$ 1.451. O sindicato pede três parcelas de 22,41%: em maio, em agosto e em novembro de 2012.
Além disso, o Cpers estará permanentemente em “estado de greve”. “O estado de greve é para dizer ao governo: ou negocia, ou vamos construir uma greve”, ameaça Rejane.
Não faltaram críticas ao governador Tarso Genro (PT) durante a assembleia geral do Cpers. Militantes que se revezaram no microfone podiam divergir em métodos de atuação, mas eram todos uníssonos nas críticas ao Palácio Piratini.
“O pai do piso deveria parar no conselho tutelar por renegar seu filho”, ironizou um dos sindicalistas, em referência ao fato de Tarso ter assinado a lei do piso nacional do magistério quando era ministro da Educação.
Outra militante acusou Tarso de seguir as diretrizes do Banco Mundial, de quem o petista solicitou empréstimos. “Esse governo foi eleito pelos trabalhadores, mas governa para o Banco Mundial. É um governo criminoso e fora da lei”, criticava.
Um dos sindicalistas conclamou a categoria a se unir diante dos “ataques capitalistas”. “Vamos fazer a única coisa que os capitalistas temem: paralisar, pensar e nos organizar”, orientou. Outro militante disse que Tarso precisa “honrar o bigode da cara”.
Cartazes e faixas também criticavam o governo gaúcho. Um folheto mostrava o rosto de Tarso e os dizeres “Tarso apoia a lei do piso: eu piso em ti”.
Sindicato direcionará ataques ao PT; pedido de contribuição extra irrita alguns militantes
Além da rejeição das propostas do governo e da reivindicação do piso de R$ 1.451 para este ano, a assembleia geral do Cpers aprovou, também, um calendário de mobilizações. Dentre as ações estabelecidas, ficou acertado que o sindicato irá intensificar o ataque direto ao PT, partido do governador Tarso Genro – e, também, da própria presidente do Cpers, Rejane de Oliveira.
Uma das resoluções aprovadas pela assembleia determina que sejam confeccionadas faixas com o símbolo do PT e “frases significativas” escritas ao redor. A medida enfrentou resistência de alguns sindicalistas. Um deles disse no microfone que é preciso concentrar as críticas no governador, não no seu partido. “Muitos colegas são filiados ao PT”, justificou o sindicalista, temendo que os ataques diretos à legenda pudessem desagradar esses militantes.
Outra medida aprovada que enfrentou resistências foi o estabelecimento de uma “chamada extra” para financiar as mobilizações ao longo do ano. Significa, na prática, uma nova contribuição ao sindicato durante determinado mês.
A contribuição dos filiados ao Cpers é de cerca de 2% do salário, que varia de acordo com os níveis. No total, o sindicato recebe cerca de R$ 1,2 milhão por mês, sendo que a maioria é comprometida com campanhas de mídia e folha de pagamento.
A chamada geral foi a proposta que mais enfrentou resistências, tendo sido aprovada por uma margem relativamente pequena de votos. Uma integrante de um grupo de oposição à esquerda da atual diretoria do Cpers não poupou críticas à medida. “Alguém aqui sabe para onde vai o dinheiro que mandamos ao sindicato? Não podem colocar a mão no bolso dos trabalhadores dessa forma”, disparou. Outra professora chegou a rasgar o cartão vermelho – utilizado para as votações – após a chamada extra ter sido aprovada. No mesmo momento, muitos professores começaram a se retirar da assembleia geral, que ainda tinha outros pontos para deliberar.
De acordo com a Brigada Militar, a assembleia geral do Cpers contou com cerca de 1,2 mil professores. O baixo quórum foi comentado por militantes durante os pronunciamentos. Um deles disse “há uma base nas escolas que não está sendo atingida” e que “95% da categoria não participa das assembleias e greves”. Em conversas paralelas, professoras mais velhas lembravam dos tempos em que a categoria realizava atos de grande porte, como as reuniões que lotavam o Gigantinho ou a mobilização de 1987, que reuniu cerca de 60 mil pessoas em frente ao Palácio Piratini.
“Uma proposta dessas é para não ser aceita”, diz Casa Civil sobre pedido do Cpers
O chefe da Casa Civil do governo gaúcho, Carlos Pestana (PT), recebeu a imprensa logo após o término da assembleia geral do Cpers, nesta sexta-feira (2). O secretário disse que não há possibilidade de o Palácio Piratini aceitar a proposta defendida pelo sindicato, que pleiteia três reajustes de R$ 22,41% este ano.
“Não é possível, é impraticável do ponto de vista das finanças públicas. Uma proposta dessas é uma proposta para não ser aceita, isso não é negociação”, disse Pestana.
O petista assegurou que o governo não irá retirar o projeto de reajuste de 23,5% que tramita na Assembleia Legislativa e que também não irá modificar o calendário elaborado para que, no final de 2014, se atinja um valor R$ 1.260. Todos esses pagamentos, somados, terão um impacto de R$ 2,5 bilhões nos cofres estaduais.
“O governo chegou ao limite financeiro, não temos condições de avançar mais nesse momento”, justificou o chefe da Casa Civil. Pestana reiterou que, apesar de o MEC ter confirmado que o piso nacional do magistério é de R$ 1.451, o governo gaúcho trabalha com outro valor. “Do nosso ponto de vista, o piso é o valor de 2011 (R$ 1.187) corrigido pelo INPC (R$ 1.260)”, confirmou.
Antes de receber a imprensa, o secretário conversou por telefone com o governador Tarso Genro, que acompanha a presidente Dilma Rousseff numa viagem à Alemanha. Pestana garantiu que Tarso recebeu “com tranquilidade” o resultado da assembleia geral do Cpers. Na segunda-feira (5), o sindicato se reunirá pela manhã com a Secretaria Estadual de Educação para apresentar as propostas deliberadas no encontro de sexta.
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